Folha de S. Paulo


Continuidade ou continuísmo

Se vencer o Figueirense hoje, o São Paulo será vice-campeão brasileiro pela sexta vez em sua história. Não é a realização de um sonho. Mas é a melhor classificação desde o tricampeonato em 2008. "Ano que vem teremos continuidade", diz o vice-presidente de futebol do clube, Ataíde Gil Guerreiro.

É provável que, no início de 2015, Muricy Ramalho siga sendo um dos dois únicos técnicos brasileiros com um ano no cargo. Abel Braga, no Inter, e Mano Menezes, no Corinthians, têm chance de serem os próximos aniversariantes.

Certeza da permanência de Abel só existirá se o candidato da situação, Marcelo Medeiros, ganhar a eleição em 13 de dezembro. Se a oposição eleger Vitório Píffero no Beira Rio, Mano pode ser o escolhido.

Neste caso, nem Mano Menezes completaria um ano no Corinthians nem Abel Braga no Inter.

Adeus, aniversários!

Dos 12 Brasileiros por pontos corridos, seis foram vencidos por clubes que carregaram o técnico do ano anterior. O Cruzeiro com Luxemburgo em 2003 e Marcelo Oliveira em 2014, o São Paulo com Muricy em 2007 e 2008, o Fluminense de Abel em 2012, o Corinthians de Tite em 2011.

De todos os exemplos, três são os mais valiosos. O Cruzeiro não se classificou para o mata-mata em 2002 e manteve Luxemburgo. Abel e Tite ficaram em terceiro lugar no ano anterior ao título nacional. Um bom trabalho deve continuar e isso não significa necessariamente ter sido campeão.

O São Paulo vai apostar nisso.

O Corinthians, não.

Trabalho ruim continuar é continuísmo. Montagem de time bom é continuidade. Isso não significa ter sido campeão ou quinto colocado.

É a primeira vez desde 1925 que os quatro grandes clubes paulistas terminam a temporada sem nenhuma taça. Em 1925, o São Paulo nem existia. Quer dizer que nunca houve um ano tão ruim para os paulistas.

Mesmo assim, é possível separar o joio do trigo. Ou seria necessário demitir todos, do presidente ao massagista, no Santos, no Corinthians, no Palmeiras e no São Paulo. Dos quatro, o Tricolor é quem mais percebe o que a continuidade pode trazer. Mas o Corinthians também poderia notar, se não fosse a disputa política.

O Corinthians hoje tem 66 pontos, um a menos do que tinha na mesma rodada de 2011, ano do último título brasileiro –o Vasco, vice-líder, tinha 65 na 36ª rodada daquele ano.

O trabalho do Corinthians de hoje seria campeão em 2011.

No São Paulo, não. Muricy sempre teve mais de 70 pontos na 36ª rodada, nos três títulos que conquistou. Mas vai continuar, porque a diretoria percebeu que é justo.

O São Paulo sabe que o São Paulo de hoje é pior do que era em 2008. É isso o que vai começar a tentar corrigir com a permanência do técnico vice-campeão brasileiro em 2005.


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