Folha de S. Paulo


O armador invisível

No dia 5 de maio de 2010, há exatamente quatro anos, o Brasil clamava por Ganso. Era uma terça-feira e faltavam seis dias para a convocação final de Dunga para a Copa. No domingo anterior, Ganso só não fez chover.

O Santos perdeu para o Santo André por 3x2 e ficou com o título paulista de 2010, na partida marcante pelo escanteio cobrado sem tirar a bola do lugar e por seu dedo indicador balançando negativamente para avisar ao técnico Dorival Júnior que não pretendia sair de campo.

Ganso prendeu a bola e segurou o resultado sem retranca. Só com bons passes.

Por alguns dias, foi o Zidane brasileiro. Não é mais.

A dois dias da convocação final de Felipão, não se fala no armador do São Paulo. No sábado, contra o Coritiba, ficou no banco de reservas.

O Brasil se ressente de armadores da sua característica e a rodada do fim de semana mostrou isso. A posição de Ganso no São Paulo foi ocupada por Pato, o Grêmio jogou com o atacante Luan como meia, o Flamengo usou Paulinho nessa função.

Faltam meias no Brasil, mas não na seleção. Oscar e Willian são boas escolhas. E quem os contesta pede Coutinho, do Liverpool.

Nenhum deles é Zidane, como Ganso foi. Mas criam, passam, ajudam a organizar e dão combate.

Ganso reclama.

O São Paulo jogou melhor com ele em campo, no segundo tempo, do que com Pabón, na primeira etapa, ele disse. E daí?

Se comparávamos Ganso a Zidane, como comparar com Pabón.

Muricy compara.

No sábado, o técnico argumentou precisar jogar pelos lados. Qualquer um poderia deixar o time para escalar Pabón. Ganso saiu, porque hoje seu futebol não compensa.

Discute-se se seria melhor que jogasse mais atrás, mais ao lado, mais pelo meio. No fundo, tudo isso já foi feito, menos escalá-lo como volante.

Não parece ser isso.

Se houvesse um armador com as características de Ganso jogando muito bem, não seria necessariamente titular da seleção. Não é simples ter um jogador do seu estilo, de pouca participação durante os 90 minutos. Neymar é o melhor da seleção e participa do trabalho defensivo.

Mas com os dois juntos, o Santos foi campeão da Libertadores jogando bem –e competitivo. Não se fala sobre Ganso na seleção nem no São Paulo por sua culpa. Sua crise pode ser física, técnica, mental...

Ele tem de descobrir por que, a dois dias da convocação, não existe nenhuma hipótese nem cobrança para que o técnico o inscreva.

No terceiro jogo da Copa de 2010, Kaká estava suspenso, e Júlio Baptista em campo contra Portugal. Dunga fez sinal para o auxiliar Jorginho querendo alguém que tocasse a bola. Jorginho balançou a cabeça negativamente. Ganso estava no Brasil.

Se a situação se repetir em junho, ninguém vai criticar Felipão por não ter convocado Ganso.

O MELHOR GRUPO

No imprevisível Brasileirão, o Cruzeiro já mostrou ter o melhor grupo de jogadores. Seus reservas têm 100% de aproveitamento, o time inteiro chegou a sete pontos em três jogos, o melhor aproveitamento. Se não houver crise por eventual eliminação na Libertadores, vai brigar pelo título de novo.

A MELHOR DEFESA

O Corinthians está longe de ser insinuante, envolvente. Uma única coisa o time de Mano Menezes já tem: a defesa. É difícil entrar na defesa menos vazada do Brasileiro. Em 2013, o melhor ataque, do Cruzeiro, embalou o time rumo ao título. Mas muitas vezes a defesa é o que mais forma campeões.


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