Folha de S. Paulo


Produtividade, um nó a ser desatado na economia brasileira

Paulo Fridman/Bloomberg
Operário em unidade da Gerdau, em São José dos Campos (SP)
Operário em siderúrgica em São Paulo

O tema é motivo de preocupação em todo o mundo e, para o Brasil, pode fazer a diferença entre a economia que queremos, vigorosa no crescimento e moderna na configuração, e a ausência de dinamismo que nos acompanha há décadas.

Trata-se da produtividade, ou seja, a habilidade de produzir mais combinando melhor os insumos. Nela reside o principal ingrediente de impulso ao crescimento e à melhoria do padrão de vida dos países. Para as empresas, define a competitividade, sem a qual a capacidade de concorrer em mercados abertos se evapora.

Embora crucial para o desenvolvimento, o avanço da produtividade do trabalho perdeu força entre 2004 e 2014. Segundo a OCDE, cerca de 90% de seus filiados experimentaram declínio nesse indicador desde a virada do milênio.

Não é um desafio só para os países desenvolvidos, aflige cada vez mais os emergentes. Por tudo isso, a OCDE recomenda a adoção de políticas para promover a competição, remover obstáculos à difusão do conhecimento e estimular o progresso tecnológico e a inovação.

Como está o Brasil nesse contexto? Na minha opinião, muito mal. Por aqui o problema apareceu com antecedência e em magnitude maior do que na maioria dos países. Suspeito ainda que as causas sejam distintas.

Já nos anos 1980 nossa produtividade do trabalho desabou. Na década seguinte praticamente não cresceu e neste século a evolução foi inferior a 1% ao ano. No mesmo período, a expansão ficou entre 2% e 5% anuais na Coreia do Sul, de 8% a 10% na China e perto de 2% nos EUA.

A produtividade no Brasil entrou em colapso devido a um conjunto de fatores, cujo denominador comum foi a execução de más políticas em áreas nas quais outros países encontraram soluções mais satisfatórias do que nós.

Na infraestrutura e na educação, cometemos graves erros. No primeiro caso, os investimentos deixaram de ser atraentes para a iniciativa privada, já que o governo anterior não foi capaz de estabelecer um modelo consistente para o setor.

Já na educação, a expansão na estrutura física, como escolas e equipamentos, não foi acompanhada pelo incremento na qualidade.

Do lado externo, o isolamento do Brasil nos privou de acesso a tecnologias, assim como restringiu a concorrência no mercado interno, deprimindo a inovação e, consequentemente, a produtividade.

A complexidade legal, especialmente nas relações de trabalho e no campo fiscal, elevou custos e inibiu o empreendedorismo de base tecnológica, reforçando o cenário de baixa eficiência.

Ao mesmo tempo, o intervencionismo crescente do governo levou a distorções tributárias que induziram as empresas a definir sua alocação de recursos com base em critérios que nem sempre seguiram à risca a busca da eficiência do investimento.

José Alexandre Scheinkman destaca que condicionantes microeconômicos são também relevantes, especialmente no que diz respeito às diferenças nos níveis de produtividade, tanto entre setores da economia como entre empresas de um mesmo ramo de atuação. O agronegócio no Brasil, por exemplo, apresenta elevada produtividade, ao contrário do que ocorre na maior parte da indústria e em boa parcela nos serviços.

A competição é o principal fator para sanar esses problemas. A disposição dos empresários em buscar a excelência e a eliminação das políticas de proteção contra a concorrência levarão a um saudável processo de seleção empresarial, tendo no mercado seu maior árbitro. A competição desempenha no meio empresarial o mesmo papel que a meritocracia ocupa em uma boa gestão de pessoal.

A produtividade não está colocada com a relevância que deveria ter na agenda de desenvolvimento do país. Se não houver reversão nas prioridades, não colheremos os benefícios econômicos e sociais que o seu avanço proporciona.


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