Folha de S. Paulo


Weinstein teria obrigado atrizes a usar grife de sua mulher em premiações

Pascal Le Segretain - 25.fev.2017/AFP/Getty Images
Harvey Weinstein e Georgina Chapman
Harvey Weinstein e Georgina Chapman

Os mundos da moda e do cinema sempre andaram de mãos dadas, mas só nesta semana, logo após oanúncio do fim do casamento da estilista Georgina Chapman com o produtor de cinema Harvey Weinstein, acusado de abuso sexual por dezenas de mulheres, que veio à tona o toma lá, dá cá entre as duas indústrias e como o "magnata de Hollywood" agia nos bastidores.

Dois agentes de relações públicas contaram ao "The Hollywood Reporter" que Weinstein obrigava atrizes a usarem vestidos da Marchesa, grife de sua mulher e da designer suíça Keren Craig, em tapetes vermelhos de premiações.

Uma dessas fontes afirma que o produtor ameaçou cortar investimentos do filme "Transamerica" (2005), caso a protagonista Felicity Huffman não usasse um "look" da mulher em um evento.

As atrizes Sienna Miller, Penélope Cruz, Kate Hudson, Renée Zellweger, Sandra Bullock e Anne Hathaway também teriam sido coagidas por seus agentes a vestir a marca para satisfazer os caprichos do empresário.

O portal de notícias não ouviu as donas da etiqueta, mas o fato explica como uma grife especializada em vestidos de festa, sem nenhuma característica que a diferencie das outras, em apenas três anos de vida virou uma das marcas mais presentes em premiações.

Entre 2004 e 2007, período indicado pelas fontes da reportagem como o de maior pressão de Weinstein sobre os agentes, a Marchesa vestiu praticamente toda a Hollywood, principalmente as atrizes envolvidas em trabalhos da The Weinstein Company.

Não soa como coincidência que em tapetes vermelhos de prêmios como o Emmy, da TV, e o Grammy, da música, a frequência de vestidos Marchesa seja menor que no Oscar ou Globo de Ouro, ainda que nestas premiações do cinema os contratos milionários firmados entre grifes e atrizes definam quem usa o que.

A polêmica ressoou na costa leste. A estilista Donna Karan saiu em defesa do colega em entrevista ao "Daily Mail", dizendo que conhece a família e os vê como "pessoas maravilhosas". "Harvey fez muitas coisas boas", disse.

Ela ainda teria apontado a forma com a qual as mulheres se vestem para explicar o assédio sofrido por elas. "Você olha para as mulheres do mundo inteiro, a forma que elas se vestem o que elas estão pedindo, apenas se apresentando do jeito que fazem. O que elas estão pedindo? Confusão."

Um dia após a publicação da reportagem, Karan emitiu comunicado dizendo que suas palavras foram tiradas de contexto.

O estrago já estava feito. As ações do grupo americano GIII - Apparel Group, dono da marca Donna Karan New York e que acumula perdas consecutivas desde o início do ano, caíram 4,11% após a declaração da estilista.

À venda em lojas de luxo como Neiman Marcus e Nordstrom, a etiqueta virou alvo de um pedido de boicote engendrado pelo site Care2, que se junta a outro pedido em curso contra a marca homônima de Ivanka Trump, filha do presidente americano Donald Trump e cuja grife também está sob o guarda-chuva do grupo GIII.

Haja vista a rápida reação do público aos comentários de Donna Karan, já é possível dizer que, em janeiro, na próxima temporada de premiações, ao menos dois "looks" estarão fora de moda nos tapetes vermelhos.


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