Folha de S. Paulo


'Não deixaria o evento acabar", diz fundador da São Paulo Fashion Week

Uma edição da São Paulo Fashion Week precisa de R$ 10 milhões para sair do papel e ganhar estrutura, corpo e roupa nova. Nada disso faltará às 35 marcas escaladas para a 43ª edição do evento de desfiles, que começa na segunda-feira (13) e vai até a sexta (17), mas elas terão de lidar com um "look" mais básico e ajustado.

Segundo o fundador e diretor criativo da SPFW, Paulo Borges, 54, o corte de 37% no patrocínio anual da Prefeitura e uma queda no valor arrecadado com patrocinadores fizeram a semana de moda chegar ao limite de verba para acontecer no formato atual, dentro do prédio da bienal do Ibirapuera, com duas salas de desfiles, passarela, camarins, iluminação e segurança.

"Faremos [esta edição] sem gritaria", diz Borges, citando as exposições e instalações grandiosas que, em tempos de calças curtas, não haverá.

Haverá, no entanto, a estreia de marcas jovens e desconhecidas do grande público, como Sissa, Maison Alexandrine, Two Denim e Fabiana Milazzo. A carioca Reserva retornará ao evento, após um hiato de seis anos longe da passarela. Ao mesmo tempo, a organização sofreu baixas doloridas, ainda que temporárias, de nomes fortes como Ronaldo Fraga, Gloria Coelho, Reinaldo Lourenço e Iódice.

"Esse entra e sai de marcas é típico da nossa moda. As grifes estão se reposicionando a todo momento, se adaptando a novos modelos. Sempre tem alguma desistência no meio do caminho", ameniza Borges. "Antes era imperativo uma marca ter várias lojas próprias e fazer grandes desfiles. Hoje, você pode ter sucesso sendo pequeno, ter um formato de venda e apresentação diferentes. É esse momento pelo qual passamos."

Não à toa, esta temporada recebeu o nome In-Pactos, uma metáfora sobre as mudanças estruturais na semana de moda e como ela deverá se adequar à nova ordem econômica para continuar de pé.

"Fizemos um manifesto sobre esse tempo disruptivo, quando temos de deixar de lado o que não vai mais servir e formar novos pactos", explica. Um desses pactos é com a Prefeitura de São Paulo. A presença do prefeito João Doria Jr. (PSDB) é esperada no evento, assim como o "compromisso" do novo presidente da SPTuris, David Barioni, em formular estratégias junto ao evento com objetivo de atrair empresários para a próxima edição, no segundo semestre.

"O 'contrassenso' seria a Prefeitura não cortar [investimentos no evento]. Nesse momento de crise, que está instalada em todos os segmentos da indústria brasileira, diminuir o aporte é compreensível. Estamos fazendo o evento com um pouco menos de dinheiro do que o da edição passada."

A título de comparação, em abril de 2016 a SPFW arrecadou R$ 12,5 milhões em patrocínios. Nesse mesmo ano, a prefeitura repassou R$ 5,6 milhões ao evento. Em 2014, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) investiu R$ 7 milhões nas duas edições anuais da semana de moda, e o total de investimentos numa única temporada chegou a R$ 16 milhões.

As repetidas baixas no orçamento fizeram acender as dúvidas nos bastidores sobre a continuidade do evento. "Nesses 22 anos o evento passou por, pelo menos, três crises econômicas. Em nenhum ano deixamos de fazê-lo. Não sou engessado, enquanto houver desejo e convicção de que a SPFW é importante vou achar formas de realizá-la. Nunca uso uma fórmula única", diz.

"Infelizmente, vou ter de roubar um pensamento do [compositor] Tom Jobim: o brasileiro não suporta o sucesso do brasileiro. Tem sempre um universo de pessoas, que nunca sabemos quem é, sempre torcendo para que a SPFW não aconteça. Não me balizo sobre o que essas pessoas pensam."

Eduardo Anizelli / Folhapress/Eduardo Anizelli / Folhapress
Modelos desfilam no SPFW de 2016
Modelos desfilam no SPFW de 2016

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