Folha de S. Paulo


Todos no buraco

RIO DE JANEIRO - A falta de segurança é preocupação perene. Desde o início do milênio, pesquisas Datafolha passaram a registrar violência/segurança como um dos três principais problemas do país. Em fevereiro de 2015, foi o terceiro mais citado (14%), ultrapassado por corrupção, por motivos óbvios. Saúde e desemprego já revezaram no topo da lista.

Com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), em dezembro de 2008, os índices de criminalidade entraram em linha descendente. Cenário de filmes de violência, o Rio tornou-se vitrine de projetos de segurança. A violência recrudesce. A volta dos tiroteios diários, as tentativas de invasão de traficantes em comunidades com UPPs, a explosão dos furtos de celulares e roubos até em vagões de metrô tornam a questão mais aguda. Vive-se ainda sob a inaceitável taxa de 29 assassinatos por grupo de mil habitantes.

As UPPs que começaram a ser instaladas nesta terça (1º) no Complexo da Maré devem ser as únicas do ano. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que "esse é o fim do início da UPP", numa confusa ideia de renascimento. A nova estratégia prevê, entre outras medidas, reciclar o treinamento e a difusão de uma polícia de proximidade.

Define o secretário: "Segurança pública é um paciente em estado febril. Difícil de vencer. Vai ter pico e uma hora vai diminuir". Os remédios, como repete incansavelmente, incluem mudanças na ação policial, políticas sociais efetivas, maior eficiência do Ministério Público e do Judiciário e revisão de leis sobre punição.

"Esse clima de pessimismo de alguns em relação à pacificação não pode... Se der errado, vai todo mundo para o buraco", afirmou o coronel Frederico Caldas, porta-voz da PM.

O projeto que reduz a maioridade penal para 16 anos, aprovado em comissão da Câmara dos Deputados, empurra para o buraco uma juventude sem educação nem perspectiva.


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