Folha de S. Paulo


Sem Jesus, Papai Noel seria ridículo; o Natal nasceu em Belém

Sebastian Scheiner/Reuters
Santuário que protege o túmulo onde Jesus Cristo foi enterrado, segundo a tradição cristã, é reaberto na Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém
Santuário que protege o túmulo onde Jesus Cristo foi enterrado, segundo a tradição cristã, em Jerusalém

Escrevo de Jerusalém, às vésperas do Natal, esta que é a minha última coluna de 2017. Acabei de chegar à cidade branca no alto da montanha e ainda processo tamanha emoção. Aqui tudo foi escrito na pedra e, por milagre, virou espírito.

O wi-fi local é o wi-fi da graça.

Caminhando em vias ao mesmo tempo dolorosas e esplendorosas, posso entender com os olhos e o coração coisas que minha cabeça nem imagina.

Foi aqui que Davi proclamou sua fé em Salmos inspiradores, que séculos depois são lidos diariamente por mim e por milhões de pessoas em busca de luz e caminho.

Foi aqui que o rei Salomão, quando instado por Deus a pedir o que quisesse, pediu sabedoria.

Foi aqui que Jesus foi empoderado, crucificado e santificado.

F oi aqui que Maomé ascendeu aos céus.

Naquele singelo bilhetinho que amassamos e colocamos nas fendas do Muro das Lamentações, meu pedido é para que 2018 seja um ano de paz, não de conflito; um ano de "lovers", não de "haters"; um ano de sabedoria, não de "fake news"; um ano de solução, não de confusão.

O homem tem a besta e tem o humano dentro de si, e eu, como Davi, rezo para que façamos a escolha correta.

Já disseram que a internet, a grande rede mundial, é o que mais chega perto do divino. Ela nada mais é do que a soma de todos nós, de nossa sagrada e vilipendiada diversidade.

Deus é como Fernando Pessoa. Tem vários nomes e várias representações. Mas sempre O reconheço. Aqui na Terra Santa, está em todas as partes e em todas as faces.

Na estrada de Belém a Jerusalém, do nascimento à redenção, fica mais fácil entender o que é ser humano e o que é ser divino. E como esses dois vértices se encontram.

Sem Jesus, Papai Noel seria ridículo. O Natal não nasceu na Macy's nem foi criado algumas semanas depois da Black Friday. O Natal nasceu em Belém. E as pessoas que acreditam em Jesus e em Deus de uma forma geral pedem presentes simples, porque acreditam que a alegria do Natal já é o suficiente.

Eu acredito muito, e por isso peço simplesmente paz. A paz do entendimento, do diálogo, que nos leva à frente. A paz como a canta Gilberto Gil: "Como se o vento de um tufão, arrancasse meus pés do chão, onde eu já não me enterro mais".

O Natal é a deixa para deixar para trás esse ódio e essa grita que nos enterram e nos enganam. É o momento de abrir via diálogo construtivo o caminho para um 2018 produtivo, de retomada econômica e retomada política.

As eleições são por definição a forma mais democrática e, portanto, mais justa de definir caminhos. Vamos aproveitar essa oportunidade que a Constituição, a Bíblia da democracia, nos deu.

Vamos votar bem informados e em paz. É o que peço aqui em Jerusalém e aí no meu país: paz, fé no Brasil, entendimento e diálogo.

O Brasil (e o mundo) é muito maior que seus "haters". Vamos prestar mais atenção nos "lovers", nas pessoas que acreditam.

Eu rezo todos os dias porque acredito. A fé nos torna humanos e nos faz entender que não somos Deus.

No dia 15 de novembro, quando completei meu primeiro triatlo, prometi a mim mesmo que escreveria artigo de Natal falando de como as pessoas podem mudar e crescer diante dos desafios da vida.

A superação é a ressurreição possível para nós mortais.

Não há promessa maior que a promessa do Menino Jesus.

Vamos celebrar este merecido Natal e fazer de 2018 o ano da paz e da construção de um país melhor.

Feliz Natal a todos.


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