Folha de S. Paulo


Me digam quais são

Ezyê Moleda/9.out.2012
S√ÉO PAULO; SP; BRASIL; 09-10-2012; 19:00. Revista SAOPAULO. O MINEIRO Ambiente interno e tutu mineiro e tambem a feijoada (a casa serve todos os dias da semana) .(Foto: Ezyê Moleda/Folhapress; revista sao paulo; S√ÉOPAULO) *** ESPECIAL***

O Facebook nos traz as melhores surpresas. Em meados de julho está chegando a São Paulo uma facefriend portuguesa. Vem de Lagos, cidade à beira-mar, turística, cheia de alegria e de programas. Temos que entretê-la aqui. Lembrar de todas as comidas brasileiras que agridem muito o paladar para evitá-las. O quê, por exemplo? Jaca, jatobá, às vezes caju, de fruta é só o que me lembro. Pequi, talvez?

Para alimentá-la e engordá-la se fazem precisos a batatinha-baroa ou mandioquinha, mandioca frita ou quente, amassada com manteiga. Cará, inhame, feijão de todos os feitios, farinhas diferentes, pimentas.

Onde posso comprar o melhor doce que não seja doce como o mais doce dos doces de batata-doce? E os figos do tamanho da unha, verdes, em compota? Algo assim como a comida da Mara do Tordesilhas ou do Mocotó? Quem sabe onde achar a melhor bala de coco?

Podem chover os endereços, mas não vale o que não for o melhor dos melhores.

O que é mais gostoso? Fazer a comida em casa junto com a hóspede ou sair à procura do que comemos nos restaurantes espalhados pela cidade? Visitar a Telma no Aizomê, a Helena no Maní, o Atala no D.O.M.? Vocês me dirão que há novos no pedaço, está bem, então me digam quais são, mas quero os clássicos também, porque São Paulo tem de tudo, é preciso mostrar de tudo. Alguns baratos, por favor.

Como é a história de pizza em Portugal? Não sei. E qual a melhor daqui? Ou as melhores?

De vez em quando é bom dar um descanso ao estômago e partir para um bacalhau... Onde? Qual deles? Que ela pense estar na terrinha?

Quando penso em boa comida portuguesa em literatura, é o bom Eça que ocorre, em A cidade e as Serras.

E lá o Jacinto, tão cheio de tremeliques e de frescuras, de técnicas, de ciências, vai parar no campo, na sua Quinta de Tormes. E ele, tão enfastiado que perdera quase de todo o apetite, chegou de surpresa e foi para a mesa rústica comer a comida dos empregados. E quem o serviu foi uma "moça rija de peitos trementes" e que "pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar com arroz de favas.". "Depois, desconfiado, provou o caldo, que era de galinha e recendia." Estava precioso: tinha fígado e tinha moela; o seu perfume enternecia."

Era assim que queríamos receber a Lina, no meio da serra rústica e caipira.

Um dia há de apetecer-lhe o churrasco, noutro um siri no bafo, a feijoada completa, o barreado.

Em dias enfarados uma pescadinha muito branca, um camarão com chuchu. Talvez se entusiasme pela paçoca de carne-seca, com um caldinho de feijão ao lado. Um bobó de inhame? Terá ela provado um bacalhau com leite de coco?

Nas doçarias vai se dar mal, só se comprarmos um quebra-queixo naquele carrinho abarrotado que anda por Paraty. Não se fazem muitos doces naquele sítio depois da bananada da Geny. Talvez uns suspiros, uns doces de mamão verde, um pudim de cará, uma gemada pelas manhãs frias.

Bolos? Não. O forno já não funciona.

Deixa pra lá, ela própria se encarregará de nos mostrar como se adoçam os ovos das galinhas magras. Pode vir, Lina Nascimento, portuguesinha do Algarve, cá te esperamos!


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