Folha de S. Paulo


Sugados somos nós

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) derrapou no verbo dias atrás. E nem foi ato falho.

Em uma entrevista a diversos veículos de comunicação, deixou fluir uma frase feito brisa e acabou colhendo vento forte contra.

Ao falar sobre o arco de alianças que obteve com sua candidatura, e do "toma-lá-da-cá" a que partidos aliados submetem o governo Dilma Rousseff, o tucano abriu a guarda.

"Muito mais gente já desembarcou e o governo ainda não percebeu. Vão sugar um pouco mais. E eu digo para eles: façam isso mesmo, suguem mais um pouquinho e depois venham para o nosso lado."

Sabemos que muitos partidos no Brasil nem precisam dessa motivação extra para sugar. Sugam tanto que suas ventosas já andam gastas.

Mas daí a aconselhar que legendas sanguessugas roubem a última gota do governo são outros quinhentos.

Como um candidato que defende princípios éticos, o tucano deveria explicar o que significa deixar com que "suguem um pouquinho mais e depois venham para o nosso lado".

Quem venham sugar a oposição? Que venham sugar seu governo, caso eleito? Ou que suguem Dilma para depois viver à míngua na hipótese de troca no comando presidencial?

Ninguém do PSDB consertou a sentença, tampouco o senador alegou ter sido mal interpretado. Ao não fazê-lo, oferece de bandeja munição para os adversários. Não se pode tratar como corriqueira a prática nefasta de, simplesmente, sugar o que é público.

Afinal, os sugados somos nós, os brasileiros, não Dilma, não o PT.


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