Folha de S. Paulo


Fator Pastor

Há várias razões, algumas óbvias e outras nem tanto, para a queda dos três principais candidatos presidenciais na última pesquisa Datafolha. A que parece mais estrutural é o desalento do eleitor com a política. Lembra o comportamento da opinião pública em relação à Copa.

Mas, ao contrário do bordão que representou a resistência ao mundial, não se pode soltar, felizmente, um sonoro "não vai ter eleição". Vai ter urna, cara feia e muito candidato refém desse pessimismo.

Na sondagem, um dado surpreendeu pelo simbolismo. Eduardo Campos (PSB-PE), um postulante presidencial que havia marcado um gol político ao se associar à Marina Silva no ano passado, ainda não consegui transformar o gesto em dividendo eleitoral.

Mas ainda há água para rolar, a despeito de um empate técnico com o quase anônimo Pastor Everaldo, do PSC. Isso, a propósito, revela um desafio.

Em 2010, Marina Silva aglutinou boa parte do eleitorado evangélico. Com o pastor no jogo, tudo indica divisão desse eleitorado.

Só para ilustrar: um pesquisa interna do PMDB apontou que, no Rio, um dos Estados campeões em número de eleitores, a sondagem quantitativa mostrou Campos com 7% e Everaldo com 6%.

Talvez o pessebista tenha se equiparado a um candidato nanico porque os votos religiosos depositados na urna de Marina lá atrás estejam migrando para alguém que tem, na alcunha de candidato, o nome de pastor.

Há quem diga que Everaldo pode terminar sua campanha chegando a dois dígitos. Parece muito para um ilustre desconhecido. Mas nunca se pode menosprezar as peças do jogo nem o poder de mobilização dos cultos.

Com um quarto do eleitorado brasileiro, metade do eleitor evangélico costuma votar nas bandeiras do candidato associadas à crença. A outra metade não encara a religião como critério eliminatório de voto, mas talvez classificatório.

A verdade é que, depois do último Datafolha, agora estamos às voltas com o "fator pastor" nesta corrida quase enigmática pelo gabinete presidencial.


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