Folha de S. Paulo


Bedel

Aécio Neves anda meio sumido.

Enquanto os adversários chacoalham o saquinho de novidades para ganhar visibilidade e mostrar (muitas vezes até inventar) realizações, o senador tucano dá coletivas de imprensa e aponta excessos do governo em propaganda oficial por meio de declarações e notas divulgadas por sua assessoria. Outro dia, chamou coletiva para "falar de futuro".

Lembro que, lá atrás, Aécio prometera criar um "shadow cabinet" para vigiar e apontar falhas do Executivo. Age como bedel do Palácio do Planalto. Diz que o ciclo do PT no poder acabou.
Esse, aliás, é o tipo de argumento que, se convencer eleitores sobre a conveniência da alternância, não necessariamente será ele o beneficiário dos votos. Afinal, do outro lado da urna há uma dupla que ganhou o prêmio "surpresa política do ano" e anda atraindo curiosos justamente por conta disso.

Governador de Pernambuco, Eduardo Campos pouco para em seu Estado. Nas visitas fora, aproveita-se do "free media" conquistado após sua aliança com Marina Silva e chega a perder a conta de entrevistas a emissoras locais. Viaja tanto que as despesas com avião já vão ficando salgadas para o partido.

O ritmo também anda acelerado no lado do governo. Com um detalhe: Dilma Rousseff tem, de longe, a caneta mais pesada de todos. Pode vistoriar e inaugurar obras em qualquer pedaço do país, fazer pronunciamentos nacionais e bancar bondades da noite parar dia.

Acompanhar essa largada com sabor de reta final é o desafio de Aécio Neves em períodos em que sequer há tempo de TV para mostrar o rosto. Talvez fosse melhor criar um "street cabinet" para competir, gastando sola, os holofotes dominados por rivais.

Ele próprio sabe que, se perder prematuramente o segundo lugar nas pesquisas, perde junto parte de sua expectativa de poder. Neste longo caminho até outubro de 2014, quem não se mostrar capaz de cruzar a linha de chegada corre o risco de não merecer a atenção da torcida.


Endereço da página: