Folha de S. Paulo


Sombra

Tudo bem, Marina Silva entrou no PSB dizendo apoiar Eduardo Campos como líder de chapa à Presidência da República e se dispondo a ser vice.

Tudo bem, Lula já repetiu zilhões de vezes que sua candidata é Dilma Rousseff para acalmar os mais assanhadinhos do PT que desejam sua volta ao poder.

Tudo bem, José Serra ficou no PSDB e, ao que consta, não prometeu nada a Aécio Neves.

A surpresa da aliança sacramentada no último sábado produziu um fato curioso. Agora, religiosamente, todos os presidenciáveis até aqui posicionados têm, em comum, um candidato no banco de reserva a fungar-lhes a nuca.

Eis outra esquisitice: todos os "jogadores suplentes" têm hoje mais intenção de voto do que o primeiro time.

As pesquisas de opinião assombrarão os titulares aqui e ali. Haverá, tal qual uma análise combinatória, cenários eleitorais ora com o plano A, ora com o plano B de cada partido. Se o primeiro piscar, a duplicata chega junto.

Marina é o caso mais excêntrico. Trocou seus 26% de intenção de voto pelos 8% de Eduardo Campos. Chamou o ingresso no PSB, em confuso marinês, de "filiação democrática e transitória". O nome é até pomposo, mas de inevitável tradução chula: partido hospedeiro.

Ninguém nega, porém, que a união dos dois em uma única terceira via adicionou charme à chapa, com o perdão da aliteração. Mas trouxe riscos. Não só à dupla, também aos outros.

Para Aécio, o efeito colateral é fazer crescer sua sombra, Serra, e animar tucanos que ainda apostam que o mineiro pode amarelar na reta final. Para Dilma, o perigo é ressuscitar o bloco, ora dormente, do "volta, Lula" e diluir parte do apoio doméstico à presidente da República.

Já não é preciso fazer gráfico, tirar a média ponderada e calcular o desvio padrão para deduzir que, dessa equação política, uma coisa é certa: o mercado político, daqui por diante, virou campo muito mais fértil a intrigas.


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