Folha de S. Paulo


Lula, o fiador

Enquanto, no governo federal, o debate econômico é restrito a dois ou três personagens (e isso quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não rouba a bola e esconde a meta de superavit primário daqueles que discordam dela), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem debatido economia com um time um pouco mais amplo de economistas.
Ele "discute o futuro" com keynesianos e liberais; e em regularidade quinzenal.

Além dos tradicionais interlocutores, como Palocci, Delfim, Beluzzo, Meirelles e algumas outras figuras do petismo clássico, incluiu há uns dois meses o economista Nelson Barbosa no seleto grupo.

Ao ex-número 2 da Fazenda, pede análises e relatórios. Lamentou vê-lo fora do governo em proporção semelhante ao seu dissabor com o secretário do Tesouro, Arno Augustin, o alterego de Dilma Rousseff.

Os mais próximos afirmam que ex-presidente está preocupado em construir uma narrativa que, de um lado, defenda o legado dos ainda incompletos 12 anos do PT no Executivo federal e, de outro, seja capaz de "vender" esperança ao eleitor em temas sensíveis, como emprego e inflação.

Nas reuniões políticas e econômicas, Lula se prepara para 2014 como se presidenciável fosse. Será "candidato dublê", ou uma metamorfose ambulante de Dilma, como ele próprio se definiu.

Nos debates internos, destacou para os encontros periódicos no Instituto Lula antigos assessores de seu primeiro e segundo mandatos: Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa, Glauco Arbix e Marcio Pochmann, esses dois últimos ex-presidentes do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Até o ano passado, Lula abria muito espaço na agenda para encontrar empresários irritados com a falta de interlocução com a Esplanada e o impulso intervencionista de setores da Fazenda e do Planalto.

A relação até melhorou após a crise política catapultada pelas ruas de junho, mas o mau humor do setor privado ainda não se dissipou.

Tanto que, nos bastidores do PT e do governo, há quem faça o seguinte diagnóstico: Lula não será apenas dublê de candidata. Se o ceticismo permanecer entre aqueles que geram emprego e investimento, terá de atuar também como uma espécie de "fiador" econômico para um eventual segundo mandato de sua afilhada. Será, além de metamorfose, a nova "Carta ao Povo Brasileiro" em pessoa.


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