Folha de S. Paulo


Deborah Secco diz que já foi assediada 'inúmeras vezes' por chefes

De tudo o que a atriz Deborah Secco, 37, já viveu, foi o nascimento da filha, Maria Flor, que vai completar dois anos, a experiência que mais a marcou.

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"A gente fala só da boca pra fora que pensa no próximo. É mentira! Só pus outra pessoa como prioridade na minha vida depois que ela nasceu", diz.

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Pouco após o parto, Deborah descreveu a experiência da maternidade como "frustrante" em uma entrevista. "A gravidez é difícil: você fica com aquela barriga enorme, tem que fazer xixi a toda hora. Aí você pensa que, quando o bebê nascer, será tudo delicioso. E não é. Tem muita privação de sono e o bebê não te dá afeto, mal te reconhece", explica. "Demora uns quatro meses para ficar bom."

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Ela saca o celular e mostra ao repórter Bruno Fávero. Na tela, Maria Flor aparece suja de tinta pintando um presente para o pai, o modelo e ator Hugo Moura, 26, marido de Deborah. "Ela faz muito sucesso no meu Instagram", comenta.

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A conta da atriz na rede social tem 8,1 milhões de seguidores. Um dos vídeos mais populares de Maria Flor tem quase 700 mil visualizações.

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Ela afirma ter receio de superexposição, mas diz que aparecer no vídeo "é a maior diversão" da filha. "Minha mãe sempre me disse, e eu acredito nisso, que a gente não sabe quanto tempo vai viver, então temos que seguir nossas vontades", justifica.

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Antes de a atriz nascer, sua mãe, Silvia, perdeu uma filha. O bebê nasceu com fenda palatina e, ao ser operado, sofreu um choque anafilático. Teve morte cerebral, mas viveu por mais quatro anos. "Minha mãe tinha 20 e pouco anos. Foi uma guerreiraça."

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Deborah diz que foi criada no catolicismo, mas que "quanto mais eu leio, menos religião eu tenho".

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Uma das obras que mais a impactou foi "Sapiens - Uma Breve História da Humanidade", do historiador israelense Yuval Noah Harari. Entre outros pontos, ele critica o tratamento dispensado pelos humanos a animais domesticados.

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Depois de ler o livro, a atriz tentou se tornar vegetariana, mas não conseguiu. "Tenho um paladar muito infantil", diz, enquanto corta um pedaço de bife com um palmo de comprimento num restaurante de um shopping em São Conrado, no Rio.

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A atriz estreou cedo no mundo artístico -ela tinha só dez anos quando fez a primeira peça ("Brincando de Era Uma Vez"); com 11, a primeira novela ("Mico Preto", da TV Globo).

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Sempre viu sua vida retratada na imprensa -o primeiro namoro público foi aos 18 anos, com o diretor Rogério Gomes, 17 anos mais velho. Vez ou outra, avalia agora, se expôs demais. Por isso, começou a tomar cuidados, como contratar um assessor que a acompanha em entrevistas.

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"Eu tenho dificuldade para me ver como uma marca e, em um futuro próximo, isso é o que vai me dar mais dinheiro", diz. Além de atuar em campanhas publicitárias, a atriz fatura com posts pagos no Instagram.

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Capa da "Playboy" em duas ocasiões, ela diz que posaria nua novamente se oferecessem o mesmo dinheiro -em 1999, ganhou R$ 2 milhões; em 2002, R$ 1,7 milhão, revela. O dinheiro foi investido em cinco apartamentos no Rio de Janeiro, para ela e familiares, e ainda bancou o intercâmbio do irmão. Em valores atualizados, os cachês somados equivaleriam a R$ 10,7 milhões.

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Em 2011, "cansada de fazer novelas" -chegou a atuar em 19 seguidas- a atriz resolveu mudar os rumos da carreira ao protagonizar "Bruna Surfistinha". Diminuiu a frequência de aparições em folhetins e passou a procurar papéis no cinema.

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"E é difícil achar bons personagens femininos", afirma. "Normalmente os melhores papéis -não só no Brasil, no mundo todo- são para homens."

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Outro obstáculo foi certa resistência dos diretores de cinema, que só a conheciam atuando na TV. "Eu pedia pra fazer teste, com toda a humildade", diz.

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*"Para 'Bruna Surfistinha', o diretor achava que eu era velha. Aí chamei ele pra jantar na minha casa e o recebi caracterizada como a personagem na adolescência, chupando um picolé. Ao longo da noite, fui trocando de roupa e fazendo a transformação da Bruna em várias idades", diz.

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Ela exibe orgulhosa uma montagem de fotos que mostra as mudanças por que seu corpo passou para que atuasse em diferentes papéis. No longa "Boa Sorte" (2014), em que interpretou uma doente em fase terminal, chegou a emagrecer 11 kg. Em seguida, dois meses depois, teve que engordar outros 17 kg para atuar em "Entrando Numa Roubada".

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"Aqui eu tomei cortisona com glicose para inchar", explica, apontando a imagem em que está mais cheia. "Ia três vezes por semana ao hospital, fazia tudo acompanhada por médicos."

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Para o aniversário de 30 anos de carreira, quis voltar ao teatro. Pediu que o dramaturgo Hamilton Vaz Pereira criasse um monólogo para ela e bancou, com um sócio, a montagem do espetáculo, batizado de "Uma Noite Dessas".

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Deborah interpreta 34 personagens em uma hora e dez minutos de obra. A história é sobre uma atriz que precisa decidir se aceita um papel para uma peça chamada "O Desfile das Mulheres Exemplares". No texto, surgem temas como feminismo, racismo e redes sociais.

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Ela conta que foi assediada por chefes "inúmeras vezes". "Tem aqueles que te chamam pra jantar, tentam ficar sozinhos com você. Qualquer um que tenha um cargo um pouco importante. E a gente não pode chamar a polícia, é nosso chefe."

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Diz que prefere não comentar o caso recente do ator José Mayer, com quem já contracenou -ele admitiu ter assediado a figurinista Su Tonani nos estúdios da TV Globo. O episódio gerou a campanha Mexeu com uma, Mexeu com Todas, de atrizes e funcionárias da emissora.

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"Também teve uma vez em que eu fui contratada para aparecer numa festa e o contratante achou que estava me pagando pra ficar com ele", lembra. "Nada muito diferente do que toda mulher de toda profissão passa", diz.


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