Folha de S. Paulo


Dono do Maksoud lida com a briga judicial da família e mortes no hotel

O telefone celular de Henry Maksoud Neto tocou às quatro da manhã do dia 28 de maio. O empresário de 41 anos atendeu, pulou da cama e em poucos minutos estava no hotel que leva seu sobrenome, a alguns quarteirões do prédio onde mora.

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A estudante Fernanda Kulicz Zuchetti Santos, 25, havia caído do heliponto do hotel de 22 andares -a polícia, que investiga o caso sob sigilo, trabalha com a possibilidade de suicídio. "É a pior coisa do mundo", diz o empresário ao repórter Chico Felitti.

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E a pior coisa acontecia pela segunda vez no ano. Seis semanas antes, no domingo de Páscoa, a estudante Kaena Novaes Maciel, 18, e seu namorado, Luís Fernando Hauy Kafrune, 19, haviam sido encontrados mortos por tiros num quarto do 15º andar do Maksoud Plaza. A polícia afirmou descartar a participação de uma terceira pessoa, e acreditava que o casal tenha selado e posto em prática um pacto de morte.

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"Foi um inferno", diz Maksoud, que fala devagar e passa com frequência as mãos nos cabelos, jogados para trás com gel. No pulso esquerdo, coberto por uma camisa xadrez, ele usa um Apple Watch, relógio inteligente da mesma marca do iPhone, e mocassins nos pés.

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O clima entre os funcionários foi de "muita tristeza" depois dos dois ocorridos, comenta o empresário. Ele afirma que conversou com cada pessoa que trabalha no hotel. "Honestidade é a única coisa que pode ajudar."

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A PanAm, casa noturna que funcionava no topo do prédio, nunca mais deu uma festa. Hoje, a cobertura, que antes cobrava R$ 100 de entrada aos sábados, está vazia não só de pessoas, mas também de decoração e móveis.

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"Fazia sentido ter uma boate. Não faz mais. Talvez um restaurante japonês, mas não uma balada", diz o dono do hotel enquanto se prepara para ser fotografado no heliponto. Não há, entretanto, nenhuma tratativa com possíveis novos inquilinos para o lugar. "O mercado está bastante parado."

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O quarto onde os jovens morreram não recebe hóspedes desde então. As janelas do prédio foram adaptadas recentemente para limitar sua abertura a uma fresta de 15 cm. O hotel afirma que a mudança foi para "atender a padrões internacionais de segurança".

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Semanas atrás, uma rede foi instalada entre o térreo e o primeiro andar do hotel, que tem um vão interno ao redor do qual os quartos foram construídos. A imprensa especulou que seria por causa de hóspedes temerosos com suicidas. "Eu acho o seguinte: tem que ter foco em segurança. Você ter um lobby assim aberto é um risco completamente desnecessário. Eu não quero mais correr riscos, quero cuidar do meu 'business' [negócio, em inglês]."

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O empresário, entretanto, nega que os incidentes tenham prejudicado a taxa de ocupação de quartos, que ele afirma estar em 75% atualmente -contra 68% de 2016 e 40% de 2014.

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O resultado, diz ele, é fruto de muito trabalho. "Tô parando de tomar remédio para dormir, cara, tô acordando às cinco da manhã, a todo vapor." Antes de o sol nascer ele já está respondendo e-mails. Faz uma pausa para praticar ioga e vai para o hotel no começo da manhã. Sai quando o trabalho permite.

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Henry Neto trabalha um bocado, mas se recusa a morar no hotel, como fazia seu antecessor, o avô. "Morei aqui dos 15 aos 18 anos. Não era bom. Muito impessoal", diz. "Outro dia eu estava fazendo uma reforma e fiquei quatro dias sem gás. Preferi tomar banho frio lá [do que se mudar para o hotel]." As duas filhas quase nunca o visitam no lugar de trabalho.

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Até porque o Maksoud Plaza hospeda uma discórdia desde a morte do seu fundador, em 2014. De um lado estão Henry Maksoud Neto e Georgina Maksoud, segunda mulher do seu avô. Do outro estão Roberto Maksoud, pai de Henry Neto, e Claudio, seu tio, que mora no hotel. Um documento assinado pelo avô nos últimos meses de vida dava a Henry Neto o controle dos negócios. Roberto e Claudio afirmam que a assinatura desse documento é falsa.

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Desde a morte do patriarca a família entrou num pingue-pongue de processos e sentenças judiciais.

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Em 6 de julho, a juíza Paula da Rocha e Silva Formoso, da 16ª Vara Cível, determinou que Claudio e sua mulher, Maria Eduarda, deixassem até dia 6 de agosto os dois quartos onde moram há 20 anos, no 13º andar do hotel. Na quarta (2), o advogado do casal, José de Arruda Silveira Filho, conseguiu na Justiça uma suspensão da ordem de despejo. O advogado afirma que os tios não têm planos de sair de lá.

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Quando Henry e os tios se cruzam no lobby, não se cumprimentam. O casal afirma a amigos que o sobrinho proibia os funcionários de servirem os quartos onde mora. Ele nega. "Eu não brinco em serviço. Empresa é negócio, não dá para misturar família. É um movimento que uma hora precisa acontecer." O modelo de gestão é o contrário do praticado pelo avô, que envolvia toda a família ali.

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Henry Maksoud fundou a Hidroservice, empresa responsável pela construção dos aeroportos Galeão, no Rio, e Eduardo Gomes, de Manaus. Com o dinheiro das obras, abriu o hotel em 1979. Em 1981, Frank Sinatra fez shows no lugar, então um dos pontos paulistanos mais chiques, onde moraram celebridades como Jô Soares.

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O neto trabalha para que o Maksoud volte a ser reconhecido como um dos melhores. Contratou o artista Felipe Morozini para criar uma decoração moderna na suíte presidencial, que passou a ser oferecida pelo AirBnb, plataforma em que donos de imóveis alugam quartos ou casas. Foi um sucesso de vendas? "Não, mas fiz mais para sinalizar para o mercado."

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O próximo passo é abrir um espaço histórico, ao menos para a família: a suíte onde morava o fundador do hotel. Quando o avô morreu, tiraram todos os móveis do dúplex de 250m² que ocupava, no topo do prédio. Buscam-se marcas dispostas a fazer parcerias para reformar o espaço.

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Não que ele usufrua do que oferece. Henry Maksoud Neto foi três vezes ao Frank, bar no térreo que foi eleito o melhor de São Paulo pela revista da Folha em 2017. "Em todas, estava com clientes."


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