Folha de S. Paulo


Vaiado no sambódromo, Doria diz que não busca unanimidade

Elba Ramalho, homenageada pela Tom Maior, chega à concentração do Sambódromo na sexta (24) num carrinho de golfe e é levada para uma espécie de andor onde seria carregada por 12 homens pela avenida. Militante contra o aborto, dizia apoiar políticos que pensam como ela, porque "todas as pessoas que defendem a vida são pessoas que pensam no futuro e pensam positivamente".

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Ela votaria no deputado Jair Bolsonaro, presidenciável que também fala pela causa? "Não tenho nome ainda, de nenhum candidato." A bateria começa a tocar o samba sobre a cantora. Elba ergue as mãos, olha para o céu e repete: "Obrigada, meu Deus".

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Em meio ao desânimo generalizado das alas VIPs do Brasil neste Carnaval, o único que parece entusiasmado é o prefeito de SP, João Doria.

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Cercado por jornalistas, ele chega ao camarote da prefeitura e cumprimenta um por um dos fotógrafos e cinegrafistas, olhando com calma para o rosto de cada um. "Tudo bem? Tudo bem? Ah, você eu já cumprimentei". E passa a falar de tudo.

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Arte na rua? "Grafiteiros, sim. Pichadores, não". Cortes que fizeram com que o camarote não servisse nem mesmo água de graça neste Carnaval? "Acabou a mordomia. Já oferecemos o espaço, os convites. Cada um terá que dar a sua contribuição, pagar a sua conta". Próxima pergunta?

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O governador chegou. Prefeito, o governador chegou", avisa um de seus assessores. Inútil: Doria segue mirando as câmeras e falando sem parar. "O governador. Prefeito, o governador".

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Alckmin desce do carro tentando ao mesmo tempo cumprimentar as pessoas e segurar os netos Enzo e Lucca, que são gêmeos e têm 5 anos. Dona Lu e o pai das crianças, Geraldinho, também tentam conter os garotos.

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Doria se aproxima para as fotos. Os dois políticos entram no espaço VIP sorrindo para todos os lados.

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Logo se separam, Doria arrastando consigo a maior parte dos fotógrafos. "Nós chegamos a pensar em sair num bloco na avenida, todos os secretários e o João vestidos de gari", conta David Barioni, secretário de Turismo e presidente da SPTuris. "Não inventa", responde Bruno Covas, vice-prefeito e secretário de prefeituras regionais.

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Doria vai no bloco do eu sozinho: entra na avenida, varre o piso, ergue uma vassoura. "Ei, Dória, vai tomar no cu!", reage parte da plateia. "Não ouvi... eu... cadê a Lu?", desconversa Alckmin sobre os xingamentos.

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"Uma maioria me aplaudiu e aprovou, e depois vaiaram os que vaiaram. Mas nem Jesus teve unanimidade. Não busco unanimidade. Eu tô aqui por vontade e alegria de estar aqui. A maioria aplaudiu, e muito", diz Doria.

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Às vezes ele volta à sala reservada às autoridades, que neste ano não serviu sanduíche nem salgadinhos, apenas água gelada e refrigerante. "Que eu paguei. Gastei R$ 100 para abastecer o frigobar", diz Barioni.

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Ele compara as despesas de carnavais passados com as de agora. "Eram gastos R$ 3 milhões em alimentação [distribuída de graça aos convidados], outro tanto em barbeiros, manicures, massagistas, R$ 5 milhões em decoração, R$ 1 milhão só no toldo! Neste ano o toldo saiu por R$ 70 mil". Áreas do espaço, porém, ficaram descobertas.

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O prefeito também foi para trás do balcão de um dos quiosques de bebidas. Ajudou a servir -e tirou mais e mais fotos. Uma funcionária queria que ele colocasse na cabeça um lenço igual ao da equipe. Daniel Braga, que cuida das redes sociais de Doria, grava tudo e não deixa o tucano pôr o adereço. "Tem a logomarca da empresa. Não é conveniente", explica.

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A água de 310 ml custava R$ 5. A caixinha de pipoca salgada, R$ 10. A lata de cerveja, R$ 7. Os lanches, como hambúrguer, pizza e estrogonofe, mais refrigerante, eram vendidos entre R$ 20 e R$ 27.

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Marchinha não faz mal pra ninguém

Zeca Pagodinho foi de novo a estrela do camarote Bar Brahma. Recém-operado da coluna, ele diz que sua fase de sair em blocos acabou. E defende as marchinhas politicamente incorretas.

As cervejas estão gastando mais dinheiro com carnaval de rua do que de sambódromo. Qual você prefere?
Gosto dos dois. Minha formação é de bloco, mas não tenho mais condição de ir.

Blocos estão se recusando a tocar marchinhas consideradas preconceituosas. O que acha do movimento?
Isso é uma bobagem. Essas músicas não fazem mal para ninguém, sempre existiram.

Não acha que elas podem estimular preconceitos?
Não acho.

Uma música sua, "Faixa Amarela", foi uma das que geraram polêmica porque tem versos de violência contra a mulher.
Isso aí eu fiz sem maldade. Mas o Martinho da Vila [que sugeriu uma alteração na letra] consertou isso.

E hoje, quando você vai cantar essa música, usa qual versão?
A do Martinho.


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