Folha de S. Paulo


Se Sônia Abrão falou, assunto já está enterrado, diz Porchat sobre polêmica com Rita Cadillac

"Aê, garoto! Pegamos com quatro [pontos] da Xuxa e já tamos com cinco e meio. Um ponto e meio em 15 minutos!", diz Fábio Porchat na van que leva a equipe para o próximo local de gravação, no início da madrugada de uma terça-feira. Os números da audiência chegam em tempo real por mensagens no celular dele.

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Enquanto seu programa passa na TV do veículo, que às vezes fica com o sinal ruim ou sai do ar, o humorista roda as ruas de São Paulo para ver se os aparelhos de restaurantes e lojas estão sintonizados na Record, onde comanda um talk show desde agosto. O roteiro da noite tem até clínica veterinária 24h e sex shop.

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"Tira esse William Waack daí!", pede ao se deparar com uma TV ligada na Globo. Quando se enxerga na tela, Porchat dá R$ 100 ao funcionário que escolheu o canal "certo". Em meio à fiscalização, improvisa piadas e se diverte diante da câmera, que registra tudo para a atração. "Deu meia-noite e quinze, você liga na Record. Mesmo que seja domingo, que nem tem programa", avisa ele ao frentista de um posto de gasolina.

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"Antes a Record dava dois pontos no horário. Está crescendo", diz ao repórter Joelmir Tavares. "O público está sabendo da existência do programa. É uma faixa difícil porque, passou da meia-noite, as pessoas desligam a TV."

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Num intervalo, de pé na porta da van, ele desliza o dedo pelo celular para checar a internet e o WhatsApp. A mãe dele, Isabella, é quem administra as páginas do filho em redes sociais e coordena o atendimento aos fã-clubes. "Não vejo muita reclamação, as pessoas só se divertem, vêm falar comigo", diz o humorista, abordado por vários fãs durante a gravação.

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A noite termina com a equipe tomando um chope no pub onde gravou o quadro (e que exibia canais de esporte em todos os telões). Porchat, que cresceu em São Paulo, mas nos últimos anos vive no Rio, volta ao hotel nos Jardins onde está morando. Seus fins de semana são no Rio, onde está em cartaz com uma peça. A mãe, a avó e a mulher têm ajudado na busca por um lar paulistano. Ele quer achar um lugar com verde. "Meu apartamento no Rio tem pitangueira, samambaia, umas plantas que caem do teto."

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No hotel, fica praticamente só para dormir as usuais seis horas ("Por mim eu dormiria 23, mas não posso"). Em alguns dias recebe a visita da mulher, Nataly Mega, que é produtora do Porta dos Fundos, o canal de vídeos na internet lançado em 2012. "Foi o ano que virou minha carreira. Criamos o Porta, estreei meu primeiro filme e a série 'Meu Passado me Condena' no Multishow e entrei para 'A Grande Família' [na Globo]."

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Foi na Globo, no "Programa do Jô", sua primeira aparição na TV. Aos 19 anos, ainda estudante de administração, aproveitou a ida ao auditório para pedir uma chance ao apresentador Jô Soares. Fez um esquete, foi muito aplaudido e até hoje, aos 33 anos, vive de provocar risos.

Em cena, Porchat gosta de começar rindo de si mesmo. "Jamais vou apontar e rir de você se eu não tiver me sacaneado muito antes. Porque a graça é todo mundo rir junto. A pior coisa que pode haver no humor é o constrangimento. Se faço uma piada e a plateia fica constrangida, é o pior sentimento. É pior do que não rir. O que quero é fugir disso."

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Mas aconteceu. A discussão sobre o tão falado "limite do humor" chegou até Porchat após a ida da ex-chacrete Rita Cadillac ao programa dele, no mês passado. Ela se sentiu desconfortável e abandonou a gravação. Primeiro pensou que a banda tocava uma música de Gretchen para ela cantar. Depois se chateou com o convite para estrear o quadro "Sarjeta da Fama" (uma depreciação à atração, e não à artista, segundo Porchat).

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Ele diz que foi tudo um grande mal-entendido. Dias depois, Rita voltou, recebeu flores e um pedido de desculpas. A gravação que gerou o mal-estar foi mostrada. "Ficou esclarecido. Não aconteceu nada, não humilhei, não xinguei, deu para ver que foi uma confusão", afirma ele, que considera o episódio superado. "Se a Sônia Abrão comentou no programa dela, o assunto já está enterrado!"

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O caso fez a produção reforçar o cuidado ao fazer os convites e explicar o que vai acontecer no estúdio. Porchat também procura conversar com os entrevistados antes, nos bastidores, para saber o que querem falar —e o que não querem. "Meu desejo é trazer todos os assuntos. Tento convencer. Mas, se cria constrangimento, não insisto", diz ele, sentado no sofá do camarim da Record, num dos três dias em que grava por semana.

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"A gente tenta, dribla as assessorias. Mas chegando aqui a pessoa quer. Tenho assessora, sei como é. A minha também não me deixa fazer as coisas, mas eu vou lá e faço", diverte-se, olhando para Bruna Arilla, que cuida da relação dele com a imprensa e acompanha a conversa.

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Minutos antes, no palco, ele tinha bagunçado o cabelo sempre arrumadinho do apresentador Roberto Justus. Gaby Amarantos, a próxima convidada, entra no camarim para falar com Porchat. Já em frente às câmeras, antes de fazer o mesmo com a cantora, o comediante digita seu nome no Google para ver as sugestões de busca. Ele narra o que aparece: "Fábio Porchat é... chato. Posso ser! É... PT? Não, nunca votei no PT".

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O programa levou poucos políticos até agora, diz ele, por causa das restrições do período eleitoral. Nesta semana, recebe o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB). "Sempre torço para que a pessoa seja um bom prefeito. E acho o [petista Fernando] Haddad um bom prefeito."

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Nada acontece no talk show sem o conhecimento de Porchat, que participa de todas as etapas. Do tipo que se irrita quando as coisas não saem do seu jeito, ele não menospreza os concorrentes, como Jô na Globo e Danilo Gentili no SBT. "A concorrência é braba do outro lado. O pessoal tá fazendo isso há anos e eu tô começando agora."

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Para um novato, ele considera que está "num trilho legal". Sente "paz de espírito" por ver que o programa está agradando. "Acho que estou menos afobado, conseguindo ouvir mais o entrevistado, contar histórias. Tô mais calmo." Para de falar por um segundo e completa, rindo: "Dentro da minha agitação".


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