Folha de S. Paulo


Bombardeio em Bogdá

O ataque norte-americano a Bagdá, no sábado retrasado, desafiou os jornais, mais uma vez, a uma cobertura complexa. A manobra, como ocorre em geral com as notícias importantes, foi de surpresa. Ocorreu em região na qual nenhum veículo de comunicação brasileiro mantém correspondente. Foi uma ação militar, área em que os jornalistas têm de se valer de informações que são fornecidas, e manipuladas, pelas forças em luta.

Mais uma vez, os jornais estiveram aquém do que se esperava deles. Continuaram a se verificar os mesmos problemas que caracterizaram a cobertura da Guerra do Golfo: poucas informações de bastidores, muita reprodução de informes oficiais via agências de notícias, timidez na hora de investigar o que realmente aconteceu.

Quando se trata de noticiar ações militares norte-americanas, a imprensa ainda se encontra nos tempos da Guerra Fria, em que a independência e a objetividade de muitos relatos estiveram tolhidas pelo temos de que toda notícia na área internacional que não se colocasse no campo definido pela política externa norte-americana estivesse a serviço dos comunistas da URSS. "Moscou" deixou de existir, embora o vício jornalístico criado durante a Guerra Fria permanece firme.

Na Folha, porém, a principal limitação nem foi de caráter político, mas jornalístico. No dia seguinte ao ataque, o jornal deu pouco destaque ao assunto. Na primeira página, houve apenas chamada em uma coluna, com uma "subchamada" do mesmo tamanho em que o correspondente da Folha em Washington, Carlos Eduardo Lins da Silva, analisava as razões de política interna norte-americana (péssima avaliação do governo Clinton pela população) que teriam provocado os disparos de 23 mísseis que mataram outo civis inocentes em Bagdá.

A subestimação do noticiário internacional -o que pode ser notado na posição de pouco destaque a que foi relegada a edição de Mundo- fica exposta porque, mais uma vez, a Folha, diante de um fato de magnitude na área externa, não lhe dá o destaque adequado na capa do jornal.

A manchete do dia (segunda-feira passada) referia-se a um suposto corte no orçamento da União, tema que, a rigor, não tinha grande novidade, pois já vinha sendo objetivo do noticiário há várias semanas. Mais uma vez, a rotina, o noticiário de Brasília, tomou o lugar de fatos relevantes, acontecimentos reais em evolução no âmbito mundial.


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