Folha de S. Paulo


Onde esconderam o tal "carro popular"?

Nem bem foi regulamentada a redução do IPI (de 8% para 0,1%), e o chamado carro popular desapareceu das revendedoras. O leitor silvestre Pedro da Silva, de São Paulo, ligou na quinta-feira passada para reclamar do "desserviço que os jornais, inclusive a Folha, têm prestado a seus leitores". O leitor argumenta que a imprensa tem desconhecido o que ele qualifica de "atentado ao consumidor".

Silva acha que, por alguma razão os carros sofrerão aumento de 28%, no começo desta semana, o produto está sendo retirado à espera de lucros maiores a partir do reajuste. Nota que os jornais deram grande destaque para a redução do importo durante as negociações entre empresário e governo para a redução do imposto. O mesmo, segundo ele, não acontece agora, quando o produto é manipulado por especuladores.
Desinformado, apesar de ler a Folha, o leitor vendeu seu carro velho no início da semana passada com a intenção de adquirir um carro popular. Desde aquele dia, tenta desesperadamente compra-lo. Procurou, sem sucesso, em revendedoras da capital de São Paulo e do interior.

Só conseguiria o carro "popular" quem se dispusesse a pagar ágio, por exemplo, na chamada região da "boca" de automóveis no centro da capital. Sem carro, impotente, o leitor pergunta: "Meu Deus, onde está a prestação de serviço dos jornais uma hora dessas? Eu nem preciso dizer que o carro vai aparecer na segunda-feira (amanhã) ".

As montadoras de automóveis reunidas na Anfavea alegam que sua produção cresceu no mínimo 67,8% de janeiro para cá em relação a igual período do ano passado e que tudo que produzem é repassado às revendedoras. Às 17h10 de sexta-feira passada, a Fenabrave, entidade das revendedoras, não tinha ninguém que pudesse explicar o sumiço dos carros.

É fato que o caderno Dinheiro, da Folha, bem como o caderno Veículos, da Folha, e o "Jornal do Carro", do "Jornal da Tarde", chegaram a publicar reportagens sobre o assunto, mas o que ficou patente foi a desproporção entre o destaque recebido pelo tema antes do acordo e a relativa timidez com que ele foi retratado a partir do acordo.

A secretaria de Redação Eleonora de Lucena diz que a Folha sempre foi crítica e cética em relação ao acordo dos carros, porque ele representa um privilégio fiscal concedido a um setor econômico em detrimento da arrecadação de impostos que, teoricamente, deveria beneficiar toda a sociedade.

Lembra ainda que o jornal publicou em manchetes da página do caderno Dinheiro de quarta e sexta-feira passadas notícias apontando o ágio que as revendedoras vem cobrando sobre o preço dos carros.
Os argumentos da Redação da Folha são consideráveis, embora não impeçam novamente a constatação de que o noticiário tende sempre a se burocratizar. De maneira frequente, as reportagens se ocupam de problemas secundários, anúncios oficiais, manifestações de intenção, picuinhas e solenidades de Brasília, subestimando problemas reais que afetam as pessoas reais.

O que mais do que isso poderia explicar o fato de o acordo ter recebido tanto destaque, quando era negociado em Brasília entre as estruturas empresaria e governamentais, quanto, agora, quando o consumidor passa a ser afetado em seus direitos, não tenha havido uma reportagem mostrando quem são as pessoas e empresas que estão escondendo o carro e onde ele está sendo escondido?
Empreiteiras

O jornalista Oscar Pilagallo, repórter da editoria de Economia da folha, conseguiu um dos furos jornalísticos do ano ao presenciar a reunião em que mais de uma centena de empreiteiras combinavam, em plena sede da Associação Paulista de Empreiteiros de Obras Públicas (Apeop), e sob o comando de um de seus diretores: o resultado de dezenas de concorrências da Sabesp.

A notícia foi publicada com chamada de capa na edição de domingo passado, sob a manchete que anunciava o Plano Eliseu. Mais uma vez, o plano oficial, ampla e previamente conhecido, de duvidosa eficácia, deslocou para segundo plano a informação exclusiva, real e não estatal.

A resposta dos jornalistas do caso Célio França
Recebi na noite de sexta-feira, a seguinte mensagem dos jornalistas William França e Flávio de Leon:

"Com relação à coluna do ombudsman publicada no último domingo, temos as seguintes considerações, que gostaríamos de ver publicadas na coluna dominical:"
"1. Lamentável que o ombudsman não tenha se preocupado em ouvir os repórteres antes de publicar sua coluna sobre a demissão de Célio França".
"2. O ombudsman se contentou em utilizar um relatório interno. Pinçou frases aleatoriamente, tirando-as do seu contexto, para provar sua tese de que a reportagem sobre a demissão de França da SAF (Secretaria da Administração Federal) e da Advocacia Geral da União foi 'oficialista'."

"3. O próprio Célio França disse ao ombudsman o que também constava no relatório interno: que usou passagens do governo para ir ao Rio, onde mora sua família, razão alegada para sua demissão pelo então chefe da SAF, Mauro Durante.

Segundo França, as viagens eram feitas para cumprir compromissos, sempre em dias próximos aos finais-de-semana, para que ele pudesse passar sábados e domingo com a família. França afirmou que tinha um acordo nesse sentido. Um acordo legalmente impossível, segundo as normas da administração pública."

"4. O ombudsman também ignorou que os repórteres reconheceram ter errado ao não incluírem em seus textos o fato de terem procurado França, embora não o tenha encontrado. Em vez de ler atentamente o relatório, preferiu dizer que entende 'a razão da omissão, pois denuncias contra José de Castro Ferreira são hoje a mercadoria mais valorizada na imprensa em Brasília'."

"5. Em suma: ao contrário do que sustenta o ombudsman, a reportagem informou que a demissão ocorrei sob alegação de irregularidades, admitidas pelo próprio Célio França."
De Célio França, recebi um faz do qual consta o seguinte trecho: "Na matéria de domingo, figurante involuntário do teatro do poder, pude contar com o ombudsman, em defesa de minha cidadania ferida. Continuo sonhando que nossas estruturas sociais possam multiplicar essa figura institucional essencial à ampliação dos nossos espaços democráticos. Afinal, no nosso tempo, a ditadura das organizações públicas e privadas, pode ser tão ou mais violenta que qualquer AI-5."

"Leio e releio sua matéria com emoção e sobretudo com muita humildade. Muito obrigado e transmita, por favor, o meu agradecimento à direção da Folha."
Retranca

Ombudsmen de imprensa, veja só, existem agora também na Rússia. O mais novo da espécie é Boris Andreievich Zolotukhin, advogado de 63 anos, apontado pela equipe do diário "Izvestia".
Em comunicado aos leitores, o jornal anunciou também que, a partir de agora, passaria observar um código de conduta ética para suas reportagens. Segundo o "Izvesia", a bem sucedida carreira de Andreievich como promotor público em Moscou foi interrompida em 1968, quando ele pronunciou pela libertação do oposicionista Alexandre Ginzburg.
Média na mídia

Ao contrário do que informou essa coluna na semana passada e após uma apuração mais detalhada, não tenho elementos para dizer que foi a CMTC a fonte da informação errada que levou um torcedor à rampa errada do estágio do Morumbi, onde foi agredido e teve um dedo quebrado.


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