Folha de S. Paulo


O dentista de Gastone Righi

O deputado Gastone Righi, presidente da comissão especial da Câmara que analisou o pedido de impeachment do presidente Collor, telefonou para reclamar de que a Folha foi injusta com ele na manchete de capa de quarta-feira passada. O título em seis colunas no alto da primeira página não era nada elogioso: "Gastone foge com defesa de Collor". O subtítulo tinha o mesmo matiz: "Golpe dos governistas tenta adiar decisão sobre impeachment".

O deputado petebista afirma que o uso do verbo fugir na manchete é pejorativo em relação à sua pessoa. Declara que não fugiu coisa alguma, pois não faria isso em tema de tamanha seriedade. Diz que recebeu a defesa do presidente, que a protocolou em seu gabinete e que, depois, teve de se retirar para tratamento dentário.

Righi diz que não apareceu diante da comissão com a defesa do presidente porque não fora convocada reunião alguma para aquele momento. Também não iria comparecer ao local para participar do que definiu como um espetáculo (o prazo final para entrega da defesa era às 19h) ali armado pelas oposições e pelas televisões.

O deputado diz que não ocorreu nada de anormal: "Se eu fujo com a defesa do presidente, eu seria acusado por roubar. Fui ao dentista e depois dirigi-me, com a defesa, para o meu apartamento no Torre Palace Hotel, em Brasília. Entre 18h30 e 20h15, mantive três contatos com o Deputado Nelson Jobim, relator da Comissão Especial. Ele próprio às 20h15, disse que tinha uma cópia, obtida no Palácio do Planalto, e que não precisaria da minha. Nós conferimos as diversas partes do documento de defesa por telefone e ficou tudo bem".

Na crítica interna diária que circula na Redação, e levantei a possibilidade de que o jornal, ao considerar que Righi fugira, talvez tivesse se deixado influenciar, como a maioria da imprensa, pelos parlamentares oposicionistas da comissão, os quais teriam superdimensionado o episódio. Questionei se não poderia estar se repetindo, às vésperas da votação do impeachment do presidente Collor, o clima de cumplicidade histérica entre oposição e jornalistas que imperou em momentos dos trabalhos da extinta Comissão de Sistematização do Congresso Constituinte.

A única saída era refazer o caminho trilhado por Righi. O jornalista Wilson Silveira, da Sucursal de Brasília, tentou sabe do deputado o nome e o endereço do dentista a quem ele consultou após receber a defesa. Segundo Silveira , o parlamentar paulista ofendeu-se, enervou-se, irritou-se e não informou o nome do dentista.

O Jornalista Lucio Vaz, também de Brasília, autor da reportagem sobre o sumiço de Righi, argumenta que o deputado sempre deixou claro que a comissão seria informada tão logo ele recebesse a defesa. Acrescenta que o próprio líder do petebista Roberto Jefferson não sabia ao certo se o documento fora protocolado antes do prazo-limite de 19hs ou não.

A história continua nebulosa até hoje. Se o deputado fornecesse elementos ela poderia ser inteiramente elucidada. A Folha também àquela altura não tinha elementos para dizer que o deputado fugira, ou para afirmar, como fez, que os governistas tinham dado "um golpe" para adiar a decisão sobre impeachment.

Righi, apesar de ser governista, merecia que lhe fosse concedida ao menos a chance da dúvida, em caso de não serem encontradas provas cabais sobre as circunstâncias e os motivos para seu desaparecimento. Há momentos em que justiça e jornalismo caminham em sentidos opostos. O caso porém pode servir a que jornalistas e jornais se vacinem para enfrentar os próximos dias, quando sob clima inevitavelmente emocional, será decidido o destino do presidente da República. Para muitos, é um convite forte a que se criem expectativas salvadoras, e a que rompa com a objetividade, o apartidarismo, a equidistância e a frieza. Um convite muito difícil de resistir.

MALUF

Agora são os organizadores da campanha de Paulo Maluf que se mobilizam para protestar contra o teste dos prefeituráveis, que vem sendo publicado no caderno Cotidiano.

Em visita a este ombudsman, Osvaldo Palma, coordenador do plano de governo de Paulo Maluf, e Cristina Barbosa, assessora-chefe, reconheceram que é excelente a idéia de se fazer a mesma pergunta a todos os candidatos e entregar as respostas sem identificação para a avaliação dos especialistas. Mas eles criticam a maneira como a Folha tem editado o teste. Segundo eles, as perguntas são bem específicas, mas o jornal generaliza a avaliação em prejuízo do leitor.

Por exemplo, em 22 de setembro, ao publicar o teste com base em uma pergunta restrita sobre leitos em hospitais na periferia, o jornal abriu título definitivo e abrangente, descartando as propostas para toda uma área de governo: "Maluf e Aloysio são reprovados em saúde".

Em sua defesa, a editora de Cidades da Folha, Suzana Singer, insiste: "Não acho grave, porque os leitos são uma questão central na área de saúde. Além disso, não dá para condensar tudo num título, algum grau de generalização sempre tem que existir". Eu também insisto, com estes testes, o jornal tem emitido juízos genéricos que podem impressionar a princípio, mas pouco colaboram para uma análise mais ponderada e rigorosa da qualidade dos candidatos.

ERMÍRIO

O empresário Mario Treves, de São Paulo, e o advogado Eudes Lebrão Junior, de Ituverava (SP), querem saber por que Antônio Ermírio de Moraes não escreve mais seus artigos na pág. 1-2 aos domingos.

Lebrão Jr. acha que o jornal está sendo pouco transparente ao limitar-se a repetir, no pé do texto do articulista substituto, uma mensagem sucinta: "Hoje excepcionalmente deixamos de publicar o artigo de Antonio Ermírio de Moraes que escreve aos domingos nesta coluna".

O leitor especula: "Será que o jornal deixou de publicar os artigos do empresáriopor iniciativa deste, que após ser sido envolvido na Comissão Parlamentar de Inquérito que apura as atividades do sr. Paulo César Farias, e de dar explicações pouco convincentes sobre seu envolvimento, se esquivou, passando de caçador, com seus artigos brilhantes e críticos a caça?"

A direção de Redação da Folha declara que de fato o empresário ressentiu-se pela maneira como o jornal destacou no noticiário depoimentos à Polícia Federal feitos por integrantes do alto comando do grupo Votorantim. A polêmica ainda não está resolvida. A Folha insiste para que Ermírio volte a escrever sua coluna dominical. O empresário estuda o caso.

Ermírio vem sendo procurado há vários dias por esse ombudsman, sem resultado.


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