Folha de S. Paulo


Desenlace

Começa hoje uma semana muito especial que pode sacudir o país de alto a baixo. A divulgação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito amanhã e sua provável aprovação pelo plenário na quarta-feira têm potencial explosivo. O desempenho modelar da imprensa nos últimos meses, através do levantamento de um volume absolutamente inédito de informações comprometedoras sobre o presidente da República, deverá ser inteiramente confirmado pelo relatório da comissão encarregada das apurações.

Por mais contraditório que possa parecer, tão logo se confirme o resultado do período de maior brilho da imprensa no Brasil aproxima-se também o primeiro grave desafio ao crédito acumulado. Sejam quais forem os desdobramentos do relatório criar-se-á uma situação política que demandará extremos de objetividade e firmeza. Não está descartada a ocorrência, isolada ou não, da renúncia de ministros, de irresistíveis manifestações de rua, da corrosão irremediável da base de apoio do governo no Parlamento, de uma desagregação do esquema de poder com consequências ainda a serem aquilatadas, apesar da têmpera serena que o país tem demonstrado.

Mas do que nunca, a população precisa de informações checadas, confiáveis, isentas, equidistantes. Os veículos de comunicação precisam do mesmo, pois essa é a hora de que um deslize pode pôr a perder reputações conquistadas com muito esforço.

RECORDAÇÕES

O prestígio conseguido tem valor ainda maior se se leva em conta que as características que cercaram a eleição de Collor em 1989 podem ser entendidas como evidências do despreparo geral do jornalismo brasileiro àquela época, com uma grande exceção: a Folha. Vale lembrar que aquela campanha eleitoral cercou-se de um espírito generalizado de desgaste da chamada classe política, dos políticos profissionais, o que não parece ter se modificado de lá para cá.

Ocorre que nesse tipo de ambiente, em que se cria verdadeira fascinação pelos "outsiders", o leitor fica ainda mais dependente para sua orientação das informações veiculadas pela imprensa. Os candidatos "de fora da política" são desconhecidos por definição. É em cima da ignorância da opinião pública que arrivistas inescrupulosos dispostos a qualquer coisa para vencer conseguem se estabelecer como imaculados salvadores da pátria. Vale muito o julgamento da imprensa sobre esses "recém-chegados".

No caso do presidente Collor, será que a imprensa de maneira geral conseguiu informar com precisão a respeito das características de sua vida político-administrativa e pessoal anterior? A resposta é evidentemente negativa para o conjunto da mídia, TV Globo à frente. Foram inúmeras as reportagens sobre a atuação do "caçador de marajás" à frente do governo alagoano. Em diferentes medidas e por diversas razões, o verdadeiro Collor e seu esquema de favorecimentos, que já funcionava em escala menor no governo de Alagoas, passou sem ser investigado e exposto ao país durante a campanha.

De um modo geral, a imprensa do país fracassou. Das exceções, a maior foi a Folha que entre maio e setembro daquele ano, em trabalho de investigação liberado pela repórter Elvira Lobato, revelou o acordo pelo qual o governador Collor comprometera a administração estadual a ressarcir os usineiros em US$ 120 milhões que teriam sido pagos de maneira indevida. Na verdade, os usineiros já haviam recebido o pagamento, que segundo o extinto Instituto do Açúcar e do Álcool, foi feito duas vezes.

ALTA E BAIXA

ALTA para..a Folha, pela sua cobertura da guerra civil da Ex-Iugoslávia, nessa semana que passou. O jornal conseguiu, inclusive, colocar o enviado especial Leão Seva no centro do conflito, a cidade de Sarajevo.

BAIXA para..a Folha, pela sua cobertura da convenção do Partido Republicano, recentemente encerrada, em Houston (Texas). A convenção do Partido Democrata foi acompanhada com muito mais carinho pelo jornal.


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