Folha de S. Paulo


Nem oba-oba nem cricri; vaia valia manchete

Nunca houve evento esportivo no Brasil que configurasse desafio ao jornalismo como os 15º Jogos Pan-Americanos inaugurados anteontem.

Para os jornais, há um desafio suplementar: a overdose informativa, estabelecida pela TV, se amplificou com os serviços noticiosos on-line.

Se os leitores dos diários merecem receber a melhor síntese dos fatos da véspera, parcela deles já acompanhou -por outros meios- jogos, provas, lutas e apresentações.

A Copa de 2006 confirmou que, sem surpreender, jornais amanhecem enrugados. As surpresas se dão com "furos", opinião, tratamento da informação e narrativas saborosas.

As grandes histórias do esporte são as dos triunfos e das frustrações. Contá-las não implica abrir mão de fiscalizar o poder. A Folha faz bem em monitorar a gastança no Pan com dinheiro público.

Errou ao não dar manchete ontem para as já históricas vaias ao presidente Lula no Maracanã.

Recusar o papel promocional, contudo, não deveria tornar o jornal um colecionador de resmungos. Recomenda-se driblar não apenas o oba-oba, mas também o tom cricri.

Desde a quarta circula um caderno sobre o Pan, com número variável de páginas. A equipe da Folha tem 15 enviados (dos quais seis fotógrafos) e seis repórteres da Sucursal do Rio -estes cobrem, além da competição, os acontecimentos da cidade, incluindo a violência. Colunistas do jornal e convidados escreverão. Em São Paulo, 13 jornalistas cuidam da edição.

O Rio sonha sediar a Olimpíada de 2016. "O Pan é um teste não somente para o esporte, mas para a cidade e a mídia", diz o editor de Esportes da Folha, José Henrique Mariante. "Queremos achar na nossa cobertura a boa medida entre a vibração e a crítica, saber valorizar o que é importante e o que é só espuma".


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