Folha de S. Paulo


Paraolímpicos são atletas treinados em busca de performances marcantes

Silvânia ficou cega na infância. Verônica sofreu um AVC (acidente vascular cerebral). Yohanssom nasceu sem as duas mãos. Uma infecção levou Alan a ter as duas pernas amputadas aos 21 anos. José sofreu um acidente de trabalho e ficou paraplégico.

Limitações são parte das vidas dessas pessoas. Todos já passaram por momentos de dificuldade e/ou preconceito. Eles e os cerca de 4.000 atletas que disputam os Jogos Paralímpicos do Rio a partir do dia 7 de setembro.

O evento não atrai a mesma quantidade de dinheiro, torcedores, esportistas e audiência quanto a Olimpíada convencional. É fato. Mas já ganhou espaço e respeito, tanto que acompanha o calendário do "irmão" mais badalado.

Por isso, está na hora de tirá-lo cada vez mais da sombra —embora alguns ainda o mantenham lá, vide o revezamento da tocha, que na maior parte do tempo ficará limitado a instituições que trabalham com deficientes.

A história que os atletas paraolímpicos querem escrever, no entanto, não é a da superação da deficiência. Isso já fizeram faz tempo. Querem superar o cronômetro, a barreira, o adversário. Ser mais rápidos, mais fortes, melhores.

Tire da cabeça o estereótipo de deficiente que a sociedade ainda insiste em manter e encare esses atletas como você encarou Michael Phelps ou Usain Bolt. Nem mais nem menos. Igual.

Não acredita?

A cubana Omara Durand tem deficiência visual, enxerga a dois metros de distância o que você vê a 60 metros e já correu os 100 metros rasos em 11s48. Se disputasse a principal competição de atletismo do nosso país, o Troféu Brasil, sairia com medalha de bronze. Jason Smith, um irlandês que tem apenas 10% da visão, chegaria em sétimo na mesma prova.

Markus Rehm, um alemão que não tem parte de uma das pernas, já saltou 8,40 m. Esqueça a final brasileira, em que ele ganharia a medalha de ouro com 21 cm de vantagem. Com essa marca, Rehm teria saído dos Jogos Olímpicos de agosto no Rio com o título do salto em distância.

Há muita discussão sobre o quanto a prótese ajuda ou não a pular mais longe, é verdade. Então veja o resultado de Silvânia Silva. Com seus 5,46 m no salto em distância, a brasileira ficou a 4 cm de figurar entre as 12 melhores do Brasil sem deficiência. Ela é cega e salta com o venda –assim, não enxerga absolutamente nada.

André Brasil tem uma perna mais fina e 5 cm mais curta do que a outra, calça 43 num pé e 36 no outro. Com sua melhor performance seria um dos 16 homens mais velozes nos 50 m livre no último Troféu Maria Lenk –chegaria em oitavo na final B. Esta é a principal prova dos brasileiros na natação.

Siamand Rahman, um iraniano gordinho cadeirante com mais de 107 kg, levanta 296 kg deitado, como num exercício de supino na academia. Na Rio-2016, quer chegar a 300 kg.

São atletas treinados, de alto nível, em busca de recordes e performances marcantes. Não conseguem seus resultados "apesar da deficiência", mas sim por causa de muitas horas de treinos e dedicação. Às vezes, muito mais do que os esportistas das modalidades convencionais.

Não são coitadinhos.


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