Folha de S. Paulo


Simone Biles e Michael Phelps trazem o extraordinário para a Olimpíada

Morry Gash/Associated Press
Os americanos Simone Biles, que se apresenta no solo, e Michael Phelps, na prova de costas
Os americanos Simone Biles, que se apresenta no solo, e Michael Phelps, na prova de costas

Algumas performances não precisam de didatismo ou explicação. Você não precisa ser especialista para perceber que está diante de algo diferente, extraordinário.

A maioria da Arena Olímpica provavelmente não entendia muito de notas de ginástica ou sabia diferenciar uma pirueta de um mortal, mas segurava o fôlego cada vez que o nome de Simone Biles era anunciado.

Se o senso comum diz que uma boa acrobacia termina com os dois pés juntos no chão, sem passinhos para trás ou para o lado, Biles mostra didaticamente como isso deve acontecer. Parece vídeo de programa de ciência.

A ginasta tem de saltar alto? Biles sobe muitos centímetros a mais para você entender bem o que alto quer dizer.

De repente algumas das melhores atletas parecem fraquinhas diante daquele furacão negro que aparece no solo. "Mas Que Nada", samba e rebolado para completar e você tem uma atração que encanta e espanta.

Melhor que Nadia Comaneci? Biles nunca vai tirar 10, mas, assim como fez a romena, está alçando seu esporte a um novo patamar, hoje só alcançado por ela.

A ginástica atual é um esporte de muito mais força e arrojo do que 40 anos atrás. Arrisco dizer que Biles teria condições de repetir as rotinas notas 10 de Nadia. Mas a adolescente romena de 1976 não conseguiria executar as acrobacias que a americana mostrou no Rio. A maioria das atletas atuais também não.

Há quem diga que o esporte vai ficar chato com o surgimento de uma atleta tão destacada, "imbatível". Que não há graça em saber quem é o campeão antes de a competição começar.

O público na Arena não parecia enfadado. Pelo contrário. A apresentação no solo foi aplaudida de pé, e apostaria que todos ali comprariam um ingresso ou ligaria TV para vê-la de novo.

Como muitos estarão no Estádio Aquático neste sábado (13) para ver o adeus de outro fenômeno. Michael Phelps, o maior medalhista da história, irá se despedir das piscinas –definitivamente agora, esperamos, pois ele anunciara a despedida em 2012 e não aguentou ficar em casa.

Desde que chegou ao Rio, Phelps tem sido ovacionado como um brasileiro. Quando surgiu dizendo que sonhava fazer algo que nenhum outro ser humano havia feito, começaram as apostas: consegue? Quando conseguiu, a brincadeira era descobrir quem iria derrotá-lo. E, sempre, vê-lo nadar já era uma atração.

Phelps reinou por muito tempo, e os talentos continuaram a surgir, os recordes a cair.

Ver o apogeu de superastros é uma das magias da Olimpíada. A natação não ficou mais chata com ele, mas ficará sem ele.


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