Folha de S. Paulo


Usain Bolt, safra 2016

Envelhecer e se manter no auge. Resolver essa equação é tarefa árdua para qualquer atleta. Principalmente para aqueles que romperam barreiras tidas como intransponíveis e transformaram seu esporte.

Missão que Usain Bolt, o homem mais rápido de todos os tempos, pena para alcançar. Aos 29 anos, seu corpo mostra sinais de cansaço.

O jamaicano passa longos períodos recluso, coleciona lesões e tem corrido pouco. O reflexo disso aparece no cronômetro.

Desde que superou seu próprio recorde dos 100 m em 2009, ele nunca mais conseguiu baixar seu tempo em Campeonatos Mundiais ou Olimpíadas. Ele ainda é rápido, mas sua marca só piora. De 9s58 passou a 9s79 no último Mundial, em 2015, quando conquistou o ouro por apenas 0s01.

Neste mês, Bolt cumpriu a distância em 10s05, tempo que fazia quando ainda engatinhava no atletismo. Hoje, na República Tcheca, volta a competir, dois dias após ter revelado uma lesão na coxa.

Precisa de uma boa marca para voltar a se posicionar bem em uma guerra travada fora das pistas e que será essencial para decidir o vencedor dos 100 m rasos no Engenhão, em agosto.

Bolt, ainda longe de se tornar uma estrela, sabia bem do que esse jogo se tratava. Em sua biografia, conta que quando ainda corria sob a sombra do então campeão mundial Tyson Gay, o jamaicano almejava apenas uma vitória sobre o rival. Uma só. Ele sabia que bastava chegar uma vez à frente para acabar com a confiança do norte-americano e mostrar quem seria o novo dono das pistas.

E deve ser exatamente o que seus rivais pensam agora. Uma marca ruim às vésperas da Olimpíada somada às dores que não o abandonam podem fazer Bolt chegar vulnerável ao Brasil.

E enquanto ele se torna mais lento, seus rivais só melhoram.

Justin Gatlin, aos 34 anos, tem contrariado a lógica dos velocistas e se mostrado melhor com o tempo. Foi bem mais regular do que Bolt na última temporada e ficou a apenas 0s01 da medalha de ouro no Mundial de Pequim.

Uma prata que lhe deu confiança, que mostrou que o homem mais rápido do mundo não está mais tão à frente dos demais como anteriormente. Não é mais impossível alcançá-lo.

O outro nome que aparece na briga é o oposto de Gatlin. Um novato abusado que não teme a concorrência desde que corria na escola. Tem apenas 20 anos e se tornou o primeiro atleta júnior a completar os 100 m abaixo dos 10s.

O norte-americano Trayvon Bromell foi terceiro colocado no último Campeonato Mundial, com 9s92. Apenas Bolt e Gatlin chegaram à sua frente.

São dois adversários perigosos. Um é experiente e constante, outro, atrevido e sem nada a perder. Os dois, muito rápidos. E na raia ao lado uma lenda que dá sinais de cansaço.

Bolt já mostrou sua capacidade de superar momentos adversos. O Mundial de 2015 foi um deles. Mas lhe custa cada vez mais se manter no topo.

O jamaicano não é daqueles vinhos que ficam melhores com o tempo. Hoje poderemos (nós e aqueles que sonham em derrotá-lo na Olimpíada) jogar um pouco mais de luz sobre o que é possível esperar da safra 2016.


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