Folha de S. Paulo


Handebol feminino aprendeu a vencer, nem que seja na marra

A seleção feminina está tendo dificuldades para defender seu título no Mundial de handebol. Jogos têm sido apertados, às vezes sofridos. A equipe tem cometido falhas. Mas mesmo aos trancos, avança. E não esconde os erros. As jogadoras e o técnico admitem e criticam as atuações ruins e se cobram para jogar melhor.

A declaração da goleira Babi após o triunfo suado sobre a Alemanha, na terça-feira (8), resumiu bem o que move esse time: "A gente aprendeu a ganhar. Podem ver isso como um problema, mas não para a gente. Esta é a nossa motivação. A gente não quer mais perder".

A equipe que sofria derrotas bobas no passado e chegou à sua principal conquista sem ser favorita, agora se doa até o último segundo para manter sua invencibilidade em Mundiais desde a campanha do inédito título em 2013. Estão vencendo na marra.

Essa vontade de ganhar parece ser mesmo o único motor capaz de mobilizar 100% as jogadoras. A ilusão de que a taça do mundo pudesse transformar a realidade do esporte já foi deixada de lado.

O primeiro a admitir isso é o dinamarquês Morten Soubak. Em entrevista ao UOL, o comandante da equipe desde 2009 fez um triste diagnóstico: "O handebol do Brasil só piorou depois do Mundial de 2013".

As dificuldades se acumulam da base ao topo da pirâmide. O handebol é um dos esportes mais populares nas escolas brasileiras. Mas os talentos têm dificuldade para sair do pátio. Quando saem, não encontram estruturas suficientes para se desenvolverem. Com poucos clubes investindo, o funil fica muito apertado, e talentos vão sendo perdidos pelo caminho.

Um dos pontos citados por Soubak como cruciais para essa piora é o número pequeno de times e o calendário curto da Liga Nacional. O título mundial que prometia ser o divisor de águas parece não ter alterado a realidade tanto assim.

O treinador também reclamou da falta de investimentos de clubes, cidades e Estados na formação dos atletas de base. Segundo ele, que vem de uma fábrica de jogadoras de handebol –a Dinamarca–, faltam atividades para as equipes de base e maior procura por talentos. Sem formar novas promessas em quantidade, as seleções terão mais dificuldade para fazer uma renovação que mantenha o nível elevado. E quem já está na ativa tem procurado fora do país uma forma de continuar jogando.

Nas últimas três temporadas, o país emplacou duas campeãs na eleição de melhor do mundo promovida pela Federação Internacional de Handebol: Alexandra Nascimento e Duda Amorim. Ambas chegaram a esse status jogando na Europa. No Brasil, poucos sabem quem elas são. Duda costuma citar um episódio emblemático. Logo após a conquista do Mundial, a jogadora e a seleção participaram de evento com empresários.

Eles sabiam que o time havia sido campeão e que a melhor do mundo estava ali, mas não tinham e menor ideia de quem fosse ela.

O handebol parece ter chegado a um lugar já ocupado por diversos outros esportes, como o tênis após as conquistas de Guga ou o futebol feminino nos anos áureos de Marta. O investimento nos atletas de elite é bem feito, dá resultado, mas depois há poucos frutos a serem colhidos a longo prazo. Cria-se a expectativa de um grande virada, mas ela não acontece.


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