Folha de S. Paulo


Qual será o exemplo de Tóquio?

Uma visita a Tóquio é uma aula de como os Jogos Olímpicos podem ser usados para transformar uma cidade. A Olimpíada japonesa aconteceu há 51 anos, e seu legado está entranhado do dia a dia dos moradores.

Em 1964, os Jogos foram marco da mudança de um país que ainda se recuperava da destruição e dos traumas da Segunda Guerra em uma forte economia global.

Os planos incluíam a construção de cerca de 10 mil prédios comerciais e residenciais, 100 km de ferrovias, 40 km de metrô, um trem para ligar a cidade ao aeroporto de Haneda e um trem-bala para encurtar a distância entre Tóquio e Osaka. Todos continuam de pé, funcionando bem e são tidos como exemplo.

A região de Harajuku, onde foi instalada a Vila dos Atletas, é hoje uma das áreas mais badaladas da cidade.

As arenas esportivas de 1964 não são elefantes brancos e recebem eventos esportivos e culturais nacionais e internacionais.

Tóquio se arriscou. Os moradores conviveram com o ar pesado e poluído das obras, sofreram para que a transformação ocorresse juntando os cacos da guerra.

Pouco mais de 50 anos depois, a cidade quer usar novamente uma Olimpíada para se reinventar. Mas, dessa vez, não há cacos para juntar nem necessidades que justifiquem obras gigantescas. Tóquio já ocupa lugar de destaque no mundo, mas precisa definir que papel quer assumir a partir de agora.

O centro da discussão sobre quais devem ser as prioridades para os Jogos de 2020 está no antigo estádio olímpico, que será reformado.

O primeiro projeto da badalada arquiteta Zaha Hadid foi orçado em US$ 2 bilhões para criar uma arena futurista e marcante. Os moradores chiaram, e o governo também, abrindo um novo concurso para escolha do desenho. Zaha refez os cálculos e chegou a U$ 1,3 bilhão. Mas ainda é muito.

Tóquio é a primeira cidade a preparar os Jogos após a divulgação das novas diretrizes do COI (Comitê Olímpico Internacional) para baratear a organização do evento e tornar as escolhas das sedes mais transparentes.

Nos últimos anos, diversos países desenvolvidos e com democracias fugiram da corrida olímpica porque simplesmente não querem gastar tanto dinheiro. Para evitar novas debandadas, o COI promete diminuir custos e aumentar a transparência de suas escolhas.

Tóquio pode seguir na toada da gastança dos últimos anos ou encontrar novas formas de transformar a cidade sem sacrificar a economia e o bolso de seus moradores. Pode embasbacar o mundo com obras luxuosas ou apenas continuar a fazer o que já vem fazendo: se exibir cuidando bem do que construiu.

Quem visita Tóquio fica encantado com a eficiência e organização da cidade. E agora fica também curioso para saber que caminho ela tomará.


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