Folha de S. Paulo


Melhor do que nunca

Os melhores nadadores foram ao Mundial de Kazan. Ele não. Se exibiram com todo glamour que o torneio merece. Ele não. Ganharam todos os holofotes do mundo. Ele não.

Mas foi bem longe da Rússia, a 10 mil km de distância para ser mais precisa, em uma piscina do Texas, que aconteceu a notícia mais importante da natação nessa temporada.

Ali estava Michael Phelps. Num cenário improvável, numa situação improvável, numa idade improvável, o atleta olímpico mais premiado da história (22 medalhas)provou que está em ótima forma.

O torneio não tinha glamour nenhum: era um Nacional, disputado exatamente por quem não conseguiu se classificar para o Mundial.

Para Phelps, no entanto, era uma chance única. Chance de mandar uma mensagem direta para Rússia.

O nadador não foi ao Mundial porque cometeu um deslize fora das piscinas. Flagrado dirigindo bêbado –pela segunda vez–, levou uma pena dura. Foi o bastante para decretarem que ele não tinha mais jeito.
Phelps respondeu na piscina: três vitórias, com as três melhores marcas da temporada. Duas delas o levariam ao topo do pódio na Olimpíada de Londres, em 2012.

Se estivesse no Mundial, teria saído com três ouros –e os EUA não teriam perdido a primeira colocação no quadro geral de medalhas pela primeira vez desde 2001.

Era o resultado que ele queria. E que o mundo da natação ansiava.

A carreira do norte-americano está se acabando. Ele já tem 30 anos e, por mais cruel que essa sentença pareça, está ficando velho para o esporte que abraçou –a média de idade dos nadadores da última Olimpíada foi de 22 anos.

As piscinas procuram desesperadamente por substituto. Não à toa. Assistir a Phelps nadar é como ver Messi jogar futebol –não vi Pelé, mas acredito que compará-lo ao Rei seja até mais correto.

Você não precisa ser fã ou especialista para entender que ali está sendo feito algo especial. Ele é tecnicamente perfeito. Nada diversos estilos. Faz o difícil parecer fácil.

Acompanhei Phelps em duas Olimpíadas, e é impressionante assistir a sua performance ao vivo.
O americano não é dos mais carismáticos ou simpáticos. Está bem longe de merecer o título de "muso". Mas é inigualável dentro da água.

Com ele, o clima muda.

O norte-americano apavora e incendeia seus rivais, causa frisson nos novatos, põe abaixo a arquibancada e atrai todos os holofotes. Dá para sentir a excitação no ar quando Phelps está na piscina.

E, pelo recado que ele passou nessa semana, é a isso que devemos assistir em 2016. Se continuar a evoluir como fez no último ano, Phelps pode chegar ao Rio de Janeiro nadando mais rápido do que nunca.

Se a organização dos Jogos provoca incertezas, o esporte ao menos já rendeu uma das melhores notícias para a Olimpíada carioca.


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