Folha de S. Paulo


Vamos desperdiçar a janela de oportunidade?

Suamy Beydoun/Agif/Folhapress
Consumidores aproveitam as promoções da Black Friday em hipermercado na zona sul paulistaba
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A economia saiu da recessão. Aos poucos, a renda e o emprego recuperam parte do que foi perdido desde 2014. Caso a agenda de reformas seja interrompida, porém, a crise pode voltar rapidamente, afinal o transatlântico continua em direção ao iceberg, só que mais lentamente.

São muitos os méritos do governo, apesar de alguns equívocos como o reajuste para os servidores. Houve o início da imensa agenda fiscal a ser percorrida, a melhora da política monetária e o resgate da credibilidade do Tesouro, que apresenta uma transparência inédita das contas públicas no seu site, revelando a gravidade da crise e os desafios para manter serviços públicos essenciais. O Parlamento surpreendeu aprovando medidas inesperadas, como a TLP e a reforma trabalhista. O cenário externo colaborou com as baixas taxas de juros em meio à retomada das economias desenvolvidas.

O resultado foi a recuperação da nossa economia.

Preservar essa trajetória requer avançar no ajuste fiscal e na agenda de reformas, pois começou a se fechar a janela de oportunidade. As economias desenvolvidas se normalizam e as taxas de juros lá fora devem aumentar no ano que vem.

Enquanto isso, por aqui, ainda há muito a fazer, afinal o gasto com Previdência não para de aumentar. Além disso, o governo ainda tem que fazer um ajuste fiscal de R$ 300 bilhões ao ano para interromper o crescimento explosivo da dívida, o que equivale a cinco CPMFs. A dívida atuarial da previdência dos servidores dos Estados e municípios é estimada em 85% do PIB, maior do que a dívida pública federal.

As distorções são imensas. Um aposentado do setor privado recebe em média R$ 1.500 mensais. No Judiciário, esse valor é mais de 15 vezes maior.

A interrupção das reformas pode levar ao retorno da grave crise. Quais serão as consequências de continuar com o desequilíbrio das contas públicas? Novos impostos ou a volta da inflação? O Brasil se tornará um grande Rio de Janeiro? A incerteza prejudica o investimento.

Alguns defendem, mais uma vez, a moderação do ajuste, acreditando que o gasto público estimula a economia. Foi de pouca valia o fracasso do governo anterior. Outros propõem ceder demasiadamente na concessão de benefícios, transformando a aprovação das reformas numa vitória de Pirro.

A reversão pode ser rápida. Em meados de 2015 ficou claro que o governo não conseguiria cumprir o ajuste fiscal. Em poucas semanas, o resultado foi a perda do grau de investimento e o aprofundamento da recessão.

Vamos repetir um fracasso tão severo e tão recente? Congressistas se preocupam com a sua reeleição. Para muitos, porém, será a última vez, caso a crise volte em 2018.


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