Folha de S. Paulo


Morta por PM, turista espanhola foi vítima do pior da vida em favela

RIO DE JANEIRO - Há cerca de três semanas, fiz um passeio turístico pela Rocinha semelhante ao que resultou na morte da espanhola Maria Esperanza Jimenez, 67. Diferentemente dela, atingida por um tiro criminoso de um PM, minha visita foi tensa, mas sem tiros.

Dois dias antes da minha ida, um casal de turistas costa-riquenhos teve de interromper seu tour pela favela por conta de um tiroteio. Não por acaso, a motorista do jipe que me levou foi enfática: "Não está dando para entrar. Não posso me negar a ir, sou funcionária. Mas, se eu ouvir um 'plá', eu pulo dessa porra andando".

O turismo em favelas está consolidado no Rio há anos, principalmente nas da rica zona sul. Os visitantes —estrangeiros, em sua maioria— são atraídos pelas vistas espetaculares, pelos bares com boa comida a preços honestos e pela chance de ver de perto uma realidade que desconhecem. Andando pelo morro, nota-se que muitos lucram com o turismo: guias, camelôs, comerciantes.

Encontros com traficantes armados de fuzil não são incomuns nesses tours; segundo o guia que me levou, alguns turistas ficam decepcionados quando não os avistam —como se estivessem numa floresta procurando um animal exótico.

Em geral, os bandidos não mexem com os visitantes; eles só estão ali porque já foram autorizados, num acordo tácito (às vezes, explícito) que é praxe nas favelas cariocas desde sempre, mesmo depois da instalação das Unidades de Polícia Pacificadora.

A Rocinha, no entanto, está em guerra. Duas facções criminosas disputam o controle do morro e a polícia está presente. É muita gente armada querendo matar uns aos outros.

Infelizmente, Maria Esperanza acabou tendo uma experiência bem real sobre o pior da vida em favela. Como ela, incontáveis inocentes já foram baleados e mortos por policiais despreparados.


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