Folha de S. Paulo


As outras Rocinhas

RIO DE JANEIRO - Como escreveu alguém no Facebook —desculpo-me com o autor, cujo nome não guardei—, a crise na Rocinha levou os governos estadual e federal a mandar uma mensagem clara para os criminosos: na zona sul do Rio, não.

O cenário que se viu na Rocinha —traficantes agindo como milícia, guerreando entre si e com a polícia— se repete há muito mais tempo em praticamente todas as favelas do Rio, e com muito mais intensidade nas das zonas norte e oeste e da região metropolitana. A repercussão midiática e a reação governamental, no entanto, são incomparavelmente menores nessas áreas.

Na sexta (22), o pânico chegou aos luxuosos bairros que cercam a Rocinha (São Conrado, Gávea, Horto), por conta dos tiroteios na favela. A PUC e as caríssimas escolas particulares da região suspenderam as aulas, o pessoal que ia para o Rock in Rio a partir da zona sul ficou com medo de atravessar o túnel.

A resposta foi rápida: a cobertura da imprensa foi frenética e, em poucas horas, o governo federal colocou quase mil homens das Forças Armadas para cercar a favela, e o estadual mandou a PM caçar os traficantes lá dentro. Dois dias depois, o prefeito Marcelo Crivella prometeu-lhe um "banho de loja".

No afã de dar uma resposta à elite, vale inclusive submeter os pobres ao mesmo mal que se está buscando curar. Um exemplo típico aconteceu na Maré, na terça (26): a polícia foi ao complexo atrás de bandidos que teriam fugido da Rocinha e o tiroteio colocou escolas e creches em risco, forçando alunos a deitar no chão para tentar se proteger.

Moradores do Borel, Juramento e outros morros da zona norte também têm sofrido com os reflexos da caçada aos bandidos que pararam a zona sul momentaneamente. A Rocinha merece paz, não há dúvida. Mas ela jamais será alcançada isoladamente.


Endereço da página:

Links no texto: