Folha de S. Paulo


Fim das UPPs acentua fracasso das megaoperações no Rio

Humberto Ohana/FramePhoto/Folhapress
A Polícia Civil do Rio de Janeiro, em conjunto com o Exército, faz operações nas favelas de Niterói (RJ) pra repreender o tráfico de drogas na Operação Dose Dupla, nesta quarta-feira (16).
Soldado revista motociclista em operação nas favelas de Niterói (RJ)

RIO DE JANEIRO - Há cerca de um mês, quando o governo federal e o do Rio anunciaram com grande estardalhaço que milhares de homens das Forças Armadas voltariam a atuar na segurança da cidade, os cariocas tiveram uma sensação de déjà vu. Ela se mostraria falsa.

Após um primeiro final de semana que seguiu o roteiro de sempre —tropas e tanques nas praias, vias expressas e pontos turísticos, para aparecer nas fotos dos turistas e da imprensa—, os militares sumiram e a cidade se deu conta de que estava diante de um novo modelo de ação, como prometera o ministro da Defesa. Um modelo ainda mais ineficaz.

Em vez de manter uma ocupação ostensiva —tarefa cara e de eficiência pontual, que traz mais "sensação de segurança" do que resultados de longo prazo—, a aposta da vez foi nas "megaoperações", baseadas em inteligência policial e tática militar.

Até agora foram feitas três delas, empregando um total de 15 mil homens, centenas de veículos e varrendo mais de uma dúzia de comunidades onde vivem centenas de milhares de pessoas. O resultado dessa grandiosidade mostra que a inteligência anda escassa: 14 armas apreendidas, nenhuma delas fuzil ou metralhadora. Mais de 70 presos, mas nenhum chefe do tráfico. Menos de 400 quilos de drogas apreendidos.

Do lado do cidadão comum, os efeitos foram mais eloquentes: quase 20 mil alunos sem aula apenas na última megaoperação, na segunda (21); idosos e crianças sendo revistados encostados em blindados, com as mãos para o alto; trabalhadores prejudicados em seu deslocamento.

Para acentuar a inutilidade da ação das Forças Armadas até agora, o governo do Rio anunciou na terça (22), de modo disfarçado, que estava acabando com as UPPs, pois precisava usar 3.000 PMs delas para patrulhar as ruas. Imagine se não estivesse recebendo apoio federal.


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