RIO DE JANEIRO - É difícil escolher um lado na disputa entre o prefeito Marcelo Crivella (PRB) e a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), tema que vem galvanizando o Rio desde que o governante anunciou uma redução de 50% na verba destinada às agremiações.
Não há dúvida de que o bispo eleito tem antipatia pela maior festa da cultura popular, como ficou demonstrado neste Carnaval. Há bons motivos para desconfiar de que esse desgosto é de cunho religioso, o que tornaria seu comportamento incompatível com a laicidade exigida pelo cargo.
Após menosprezar o Carnaval e suas tradições, Crivella não tem moral para convencer a população de que a redução do subsídio é mero rearranjo orçamentário. Mas que moral tem a Liesa, notório reduto de contraventores, para se insurgir? Ainda mais depois do trágico e irresponsável desfile deste ano, com dois acidentes graves que deixaram uma morta, vários feridos e nenhuma punição.
Acima de tudo, é difícil tomar partido porque há pouca transparência de ambas as partes. Quem sabe quanto a Liesa gasta e quanto lucra com os desfiles? Quem é capaz de atestar que os R$ 2 milhões que a prefeitura repassou a cada escola do grupo especial neste ano foram gastos adequadamente? Sem esse tipo de dado, é impossível fazer uma discussão objetiva.
A ameaça da Liesa de suspender os desfiles de 2018 é risível. Com o orçamento de cada escola girando entre R$ 6,5 milhões e R$ 10 milhões, é complicado argumentar que R$ 1 milhão a menos inviabiliza os trabalhos. Se a liga tornou-se dependente de dinheiro público a esse ponto, é sinal de muita incompetência.
Dado que não há santos nesse embate, Crivella faria melhor em não cortar a verba dos desfiles agora, dando uma espécie de aviso prévio e aproveitando para impor mais controle público, exigindo transparência e melhor gestão.