Folha de S. Paulo


O choro é livre, a vaia também

Divulgação/COI
Thiago Braz consola Lavillenie, adversário da final, depois das vaias na cerimônia de premiação
Thiago Braz consola Lavillenie, adversário da final, depois das vaias na cerimônia de premiação

RIO DE JANEIRO - Primeiro a Rio-2016 tentou impedir protestos contra o governo e a Rede Globo nas arenas. Foi derrotada na Justiça. Depois, passou a mirar as vaias da torcida contra atletas de outros países.

Vaiar, segundo o comitê organizador —e parte da mídia e competidores estrangeiros—, "não é uma atitude tolerável". A menos que a torcida esteja num jogo de futebol. Como se cobrar um pênalti não exigisse concentração, como se o juiz não fosse tão intimidável quanto um saltador com vara.

É claro que há esportes em que a gritaria pode afetar mais —mesmo neles, o que se espera de um atleta que quer ser campeão é que tenha a frieza para fazer seu melhor em condições adversas. Um dos muitos exemplos disso foi o vietnamita Xuan Vinh Hoang, que levou o ouro no tiro esportivo, derrotando o brasileiro Felipe Wu.

Não sou a favor de vaias e agressões verbais a adversários, em lugar nenhum. Mas sou ainda menos favorável a restringir o direito à livre manifestação, mesmo a equivocada.

Lidar com plateia tem esse problema, não só nos esportes: ela nem sempre se comporta como os protagonistas gostariam. Alguém tosse, alguém ri fora de hora, bebês choram, celulares tocam, um grupo vaia e zoa tudo. Faz parte. Ao menos no Brasil.

Por aqui não se vaia apenas o adversário, mas também os atletas da casa, quando cabível; a Rio-2016 já teve exemplos disso, com a seleção brasileira de futebol. Mais do que isso: a torcida local, versada em programas de auditório, se comporta como se estivesse em um. Gosta de aparecer, de drama, de humor, elege heróis e vilões.

De resto, é curioso que muitos críticos das vaias aos atletas estrangeiros tenham elogiado aquelas direcionadas a Michel Temer na abertura. Vaiar adversário político pode, mas vaiar adversário esportivo é feio?


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