Folha de S. Paulo


Sou favorável à internação da quase totalidade da Câmara e do Senado

Me pareceu algo perto do absurdo querer lidar com a cracolândia paulista como caso de polícia.

A questão da droga e a dependência dela, que fazem pessoas viverem nas ruas, em condições sub-humanas, é claramente um caso de saúde pública, de tratamento e recuperação do usuário.

Se há no país um claro caso de polícia, em que um bando de pessoas ocupa um espaço público apenas para satisfazer seus prazeres pessoais, ele ocorre no Congresso Nacional.

Débora Gonzales/Folhapress

Sou favorável à internação compulsória da quase totalidade da Câmara e do Senado, pra tentar curar esse vício de poder, que ainda por cima leva a drogas mais pesadas, como corrupção, caixa dois e outras atitudes ilícitas.

É possível traçar alguns paralelos entre os ocupantes da cracolândia e do Congresso.

Ao contrário dos dependentes químicos, os dependentes de poder não perdem tudo que têm para o vício. Quanto mais fundo do poço mergulham, mais milionários ficam.

Com isso, ao contrário dos expulsos da cracolândia, nenhum parlamentar que deixar o Congresso chegará a morar embaixo da ponte -de qualquer uma das construídas com o famoso tráfico de aditivos e valores superfaturados.

Na cracolândia, quanto mais conhecemos cada um deles, suas histórias e o que os fez parar ali, mais nos solidarizamos.

No Congresso, quanto mais conhecemos cada um deles, suas histórias e o que os fez parar ali, mais somos tomados por desprezo ou raiva.

Assim como qualquer droga, o vício em corrupção -passo seguinte à dependência de poder- começa com poucas quantidades de dinheiro, roubos ocasionais, e vai se intensificando até que o dependente passa a ter acesso a volumes cada vez maiores, chegando até a distribui-los para os demais -o que altera sua condição de usuário para fornecedor.

A corrupção, esse mal que nos afeta diariamente, também ajuda a sustentar a indústria da droga. É nesse lugar que os dois vícios se encontram para debilitar corpo e alma de indivíduos e sociedades.

Mas, apesar do quadro desolador, não deixo de ser otimista. Acredito fortemente que com planejamento, estudo e trabalho sério é possível ter esperança na recuperação dos dependentes.

Da cracolândia, é claro.


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