Folha de S. Paulo


O caso Hummel

Na semana em que começou a funcionar a CPI dos Correios e seguiam com seus trabalhos o Conselho de Ética e a Corregedoria da Câmara, a notícia mais importante sobre a delegacia de polícia em que se transformou o país veio do jornalista Elio Gaspari.

Na sua coluna de quarta-feira, "Ser direito dá cadeia", Gaspari relata o drama do engenheiro Antonio Carlos Hummel, diretor de Florestas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), preso no último dia 2 na Operação Curupira da Polícia Federal com outras 92 pessoas acusadas de integrar esquemas criminosos de desmatamento e extração de madeira.

Hummel foi levado algemado de Brasília para a prisão em Cuiabá (MT), onde ficou preso por cinco dias. Foi solto porque nem a Polícia Federal nem a Procuradoria da República tinham acusações contra ele e não podiam indiciá-lo.

Sua prisão teve grande repercussão pela quantidade de gente presa, pelo tipo de crime que envolvia e porque alguns dos presos tinham cargos públicos importantes, como Hummel.
A prisão foi amplamente noticiada, mas a libertação por falta de prova e acusação foi ignorada pela imprensa. A desgraça do engenheiro Hummel só ficou pública duas semanas depois de ter sido solto e graças à coluna de Gaspari na Folha e no "Globo".

A Folha teve o cuidado de colocar um extrato do texto do jornalista na primeira página, "Prisão de diretor do Ibama ensina que ser direito pode dar cadeia". No dia seguinte, fez uma reportagem ("Diretor do Ibama diz que processará Procuradoria") e uma entrevista com o engenheiro ("Prisão é ferida difícil de cicatrizar, diz Hummel").

Ouvido, o procurador da República em Cuiabá Márcio Lúcio Avelar disse que a falta de provas não significa absolvição. Deve estar certo. Mas o fato concreto é que não havia nada contra o engenheiro.
Esse episódio, como lembra Elio Gaspari no início do seu artigo, "deve levar os procuradores do Ministério Público e a imprensa a refletir sobre seus papéis na defesa da lei e dos direitos dos cidadãos".
Tem razão. É uma defesa, no entanto, difícil porque a reclamação histórica no país sempre foi em relação à impunidade. As prisões em massa que estão sendo feitas satisfazem momentaneamente a ânsia por Justiça.
Neste momento, as páginas dos jornais estão repletas de acusações que estão sendo investigadas e poderão ser comprovadas ou não. Envolvem políticos, funcionários públicos, empresários, pessoas comuns, empresas públicas e privadas. É difícil nessas horas distinguir criminosos de inocentes. E é por essa razão que a imprensa deve ter cuidados redobrados nas reportagens que publica.

A notícia da prisão de Hummel pela PF não podia deixar de ser dada e, se houve erro, foi da polícia e do Ministério Público. Mas a imprensa tem a obrigação de acompanhar os casos que noticia para que possa manter o leitor informado, principalmente quando descobre que um acusado é inocente. Neste caso, deve dar publicidade imediatamente. É o caminho mais honesto para ajudar a reparar uma injustiça.

A imprensa cumpre seu papel quando fiscaliza e investiga com rigor. E cresce em credibilidade quando se corrige.


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