Folha de S. Paulo


No tranco

A revista "Veja" que circulou no sábado, dia 14, trouxe a notícia que marcaria o resto da semana: "O vídeo da corrupção em Brasília - A incrível seqüência do dinheiro saindo das mãos do corruptor para o bolso do corrupto. Mais: diálogos inesquecíveis!".

Era o título que se lia na capa. Dentro, havia ampla e bem ilustrada reportagem que reproduzia cenas e diálogos do vídeo que flagrava um funcionário dos Correios recebendo dinheiro e revelando um esquema que envolvia seu partido, o PTB, e o PMDB, além de citar os nomes de várias empresas.

A notícia teve repercussão instantânea não só por causa do choque que denúncias documentadas sempre provocam mas também pelo fato de ter sido publicada num momento de extrema debilidade política do governo do PT. Para usar o chavão, caiu como uma bomba -e seu efeito foi imediato.

Menos na Folha. O jornal demorou a acordar para o caso. Na edição de domingo, publicou apenas um pequeno registro no pé da página A4, "Correios vão apurar caso de corrupção". Na segunda-feira, a mesma parcimônia. O caso não mereceu espaço na primeira página e, no interior, a reportagem era curta e burocrática. Salvaram-se o "Painel" político e a coluna de Brasília. O assunto principal do jornal era um levantamento sobre a arrecadação financeira do PT durante o governo Lula.

O alheamento da Folha ficou ainda mais constrangedor com a omissão, naquela segunda, de outra denúncia importante de corrupção: o "Fantástico", da TV Globo, havia mostrado na noite de domingo trechos de vídeos que surpreendiam deputados de Rondônia tentando subornar o governador.

Registrei as falhas na Crítica Interna: "A Folha trata mal os dois casos de corrupção que surgiram no final de semana". Relendo as edições acho que fui condescendente. Apenas na terça-feira o jornal deu aos dois casos a atenção que exigiam. O caso da "Veja" era a manchete ("Oposição tenta criar CPI sobre os Correios") e o do "Fantástico" também estava na capa ("Fitas geram crise e ato contra censura em RO").
Ainda assim o jornal demorou a dar um rumo aos casos. Os "chapéus" que utiliza para classificar os assuntos comprovam isso. O caso dos Correios foi editado no domingo como "Investigação", na segunda, como "Tremor na base", na terça, como "Mala direta", na quarta, como "Crise dos Correios" e, na quinta, como "Governo sob pressão".

Na quarta-feira, voltei a criticar o jornal por não publicar nenhuma carta de leitor comentando os escândalos. Não era possível que ninguém tivesse se interessado. Na quinta saíram algumas mensagens.
Não é a primeira vez que o jornal reage lentamente aos fatos. Isso ocorre principalmente nos fins de semana, quando as equipes são menores e a maior parte do material está antecipadamente produzida. Há uma dificuldade para perceber as notícias e fugir do planejado. Por essa razão, freqüentemente as edições de segunda são frias, mesmo quando há fatos relevantes, como os escândalos dos Correios e de Rondônia.


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