Democracia: o início, o fim e o meio. O caminho que precisamos percorrer para transformar o Brasil num país mais justo e igualitário começa e termina inevitavelmente no debate sobre nosso modelo de democracia.
Iniciei minha participação como colunista na Folha em 4 de agosto de 2015, com o artigo "Democracia dos excluídos". E assim, mais uma vez discutindo o assunto, suspendo minha colaboração para disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro.
Falemos, então, sobre essa filha que ainda não veio e cujo parto já dura 28 anos. As complicações que tanto nos atrasam estão ligadas ao esgotamento do pacto estabelecido desde a redemocratização.
Pacto ancorado em alianças e negociações de cúpulas partidárias que transformaram o governismo de coalização em governismo de extorsão, baseado no vale tudo dos acordos espúrios para construir maiorias e falsos consensos parlamentares.
Nesse grande campo de batalha, 2013, símbolo maior da crise de representatividade, aparece como paradoxo. Afinal, um ano depois das manifestações que tomaram as ruas do país, o Brasil elegeu o Congresso mais conservador desde a redemocratização.
Engana-se quem enxerga o resultado das urnas em 2014 como uma derrota dos sonhos alimentados um ano antes. A vitória de 2013 aconteceu e é mais política do que eleitoral. Ela vive na luta de estudantes, mulheres, negros e LGBTs por igualdade de direitos. Eis a sua importância e beleza.
A ocupação de escolas públicas no Rio e em São Paulo por milhares de estudantes, que estão reivindicando melhores condições para o sistema educacional e ressignificando as relações dentro do espaço escolar, são heranças de 2013. Os jovens obtiveram conquistas concretas no Rio, como a eleição direta para diretores dos colégios.
A discussão sobre política passou a ser central e a tomar todos os espaços, das ruas aos almoços familiares de domingo. Não se trata apenas de assuntos eleitorais e partidários, mas de temas que envolvem questões mais amplas no debate sobre cidadania, como o papel da educação e dos meios de comunicação, o direito das minorias e a reforma política.
Nenhum debate é impossível de acontecer. Recentemente, a Folha foi duramente criticada, inclusive por seus colunistas, por omitir dados de pesquisa do Datafolha sobre o atual governo. O jornal escondeu que 62% dos entrevistados são favoráveis a novas eleições se Dilma e Temer renunciarem.
Dois mil e treze continua nos mostrando que a democracia não se restringe ao processo eleitoral. Nossos sonhos não cabem nas urnas. O que precisamos fazer é continuar lutando para que elas não nos provoquem pesadelos.
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MARCELO FREIXO deixa de escrever nesta coluna porque vai disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro.