Folha de S. Paulo


Brasil é o 2º maior gerador de e-lixo das Américas

Manan Vatsyayana/AFP
Depósito de lixo eletrônico em Kualar Lumpur, na Malásia.
"Só 20% dos resíduos eletrônicos produzidos no mundo foram reciclados"

Nove pirâmides de Gizé ou 4,5 mil torres Eiffel. Em 2016, o peso equivalente a esses combos de monumentos, 44,7 milhões de toneladas, foi gerado de lixo eletrônico no mundo, um aumento de 8% em relação a 2014.

Até 2021, a produção dessa sofisticada sucata deve superar as 50 milhões de toneladas ao ano, um aumento de cerca de 17%. Estima-se que o desperdício potencial desses materiais seja equivalente a US$ 55 bilhões.

TVs, celulares, aparelhos de som, video e outros eletrônicos com placas possuem componentes valiosos como ouro, prata, cobre, platina, paládio.

Mas a reciclagem é complexa e não é difundida globalmente. Só 20% dos resíduos eletrônicos produzidos no mundo foram reciclados. A maior parte do que é descartado vai parar em lixões a céu aberto, contaminando solo, ar e água.

Os dados fazem parte de um relatório internacional lançado no último dia 14 de dezembro , o Global E-waste Monitor 2017. Foi elaborado nos últimos 12 meses por três entidades: Universidade das Nações Unidas (UNU), União Internacional das Telecomunicações (UIT) e ISWA - International Solid Waste Association (Associação Internacional de Resíduos Sólidos).

No continente americano, a produção de e-lixo é de 11,6 kg por habitante por ano, com uma coleta de apenas 17%, comparável à taxa de coleta na Ásia (15%). Porém, naquele continente, a geração é de 4,2 kg de lixo eletrônico por habitante/ano.

O Brasil é o segundo país que mais gera lixo eletrônico nas Américas, com 1,5 milhão de toneladas por ano. Em primeiro lugar estão os EUA, com 6,3 milhões de toneladas/ano, e em terceiro está o México, com 1 milhão de toneladas por ano.

Os maiores geradores de resíduo eletrônico per capita são Austrália e Nova Zelândia, que geram 17,3 kg por habitante/ano. Europa, com a Rússia, aparece em segundo, com média de 16,6 kg por habitante, mas têm a melhor taxa de coleta: 35%.

Segundo Carlos Silva Filho, vice-presidente da Iswa e diretor presidente da Abrelpe (Associação das Empresas de Limpeza Urbana), não existem dados de reciclagem de e-lixo específicos do Brasil, mas, aqui como em quase todo o mundo, o "furo no sistema" está na "inexistência de estrutura e incentivos para a devolução dos equipamentos usados".

"Hoje é mais barato descartar no lixo comum ou deixar no fundo da gaveta do que devolver o equipamento eletrônico usado para recuperação dos recursos", diz.

Mas, justo em época de grande expectativa de consumo, há chance de reverter a tendência. "O consumidor deve buscar marcas que disponibilizem serviço de recuperação dos eletroeletrônicos" ou "localizar as iniciativas em sua cidade", pois, aponta o estudo, "esses resíduos têm grande potencial para reciclagem e recuperação de recursos". Por outro lado, completa "são altamente poluentes se descartados em local inadequado".

"Tudo gira em torno da consciência do consumidor. Primeiro precisamos conter o consumo desenfreado. Segundo, pensar em um descarte mais nobre para aquilo que não usamos mais, seja doando –ainda há muita necessidade de produtos usados no Brasil –ou procurar um sistema de coleta e reciclagem efetivo."

RECICLAGEM DE TV

Criado por determinação da Anatel para dar apoio à expansão e padronização do sinal digital de TV, o programa Seja Digital (EAD - Entidade Administradora da Digitalização de Canais TV e RTV) mapeia recicladores de TVs em seu site.

Por meio do CEP, é possível ter informações sobre descarte adequado e encontrar um ponto de coleta próximo.

O programa tem distribuído kits de conversores para cadastrados em programas do governo e fez mutirões de coleta de TVs não compatíveis com o sinal digital.


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