Folha de S. Paulo


Fashion Revolution e Gaveta debatem moda sustentável no Rio

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Última edição do Projeto Gaveta, no Rio, com brechó coletivo; a próxima será dia 29. Divulgação
Última edição do Projeto Gaveta, no Rio, com brechó coletivo; a próxima será no dia 29

Quem fez minhas roupas? Como e de que forma? Durante a semana toda, uma campanha pela transparência integral da complexa cadeia produtiva da moda esteve em debate em escolas, faculdades, ateliês, feiras e encontros espalhados pelo mundo.

A indústria de vestuário é considerada vilã pelo consumo em excesso e pela poluição de água, pela exploração de mão de obra em condições análogas à escravidão e pelo trabalho infantil, em vários países.

Desde o dia 24 e até dia 30 se realizam as atividades da Fashion Revolution Week, iniciativa internacional para promover a adoção de padrões de proteção aos trabalhadores e ao meio ambiente em todas as etapas da cadeia, da matéria prima ao consumidor final, o que inclui divulgação de fornecedores, supervisão de oficinas e explicitação de métodos de cultivo e fabricação.

O movimento Fashion Revolution foi criado por ativistas da moda sustentável para propor mudanças na indústria depois do desabamento do centro Rana Plaza, em Bangladesh, em 24 de abril de 2013, deixando mais de mil mortos e 2.500 feridos. No local, funcionavam fábricas de roupas de marcas internacionais que produzem em países pobres para explorar a mão de obra, aproveitar e falta de leis e de supervisão, e revendem seus produtos para os mercados europeus e americano.

No sábado, 29, a Fashion Revolution Week se une à sexta edição do Projeto Gaveta, no Rio, para um dia de rodas de conversa, exposição de fotos, oficinas de reparos e de personalização de roupas e bijuterias, palestras sobre moda sustentável e uma feira ecogastronômica.

Entre as mesas redondas, está "Amor à segunda vista", sobre o
comportamento do consumidor brasileiro em relação a brechós e roupas de segunda mão, e "Moda e Sustentabilidade: Uma nova indústria é possível?", sobre como a cadeia de moda pode contribuir para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

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Poster da campanha “Who Made My Clothes” , pela transparência na indústria da moda.
Pôster da campanha "Who Made My Clothes", pela transparência na indústria da moda

A programação será na Malha, um galpão onde funciona um centro colaborativo de moda com várias marcas e grupos de artesãos e trabalhadores têxteis em São Cristóvão, bairro que reúne muitas das confecções e ateliês da cidade.

O Projeto Gaveta começou promovendo feirinhas de trocas de roupas entre amigos em 2013. Suas duas idealizadoras, Giovanna Nader e Raquel Vitti Lino, se surpreenderam com a quantidade de pessoas interessadas e resolveram profissionalizar o negócio.

Hoje contabiliza mais de 22 mil peças de roupas "circuladas" e não se resume aos brechós coletivos, embora ainda os promova. "Nossa ideia atual é proporcionar outras experiências de consumo aos participantes e discutir a sustentabilidade", diz Giovanna. O projeto pode ser contratado para atuar dentro de empresas e tem agenda em várias cidades. Em junho, está programado um Gaveta em Sorocaba (SP) e, em setembro, em São Paulo.

No último dia 23, para abrir a semana internacional, o movimento Fashion Revolution lançou a segunda edição do seu índice de transparência (Fashion Transparency Index), que classifica 100 das maiores marcas de moda e varejistas globais de acordo com a quantidade de informações que divulgam sobre seus fornecedores, políticas e práticas da cadeia de suprimentos e impacto social e ambiental.

Segundo a nota divulgada pela Fashion Revolution, as marcas globais estão publicando mais sobre suas políticas e compromissos, mas o espaço maior é dado aos valores e crenças das marcas e não às suas ações e resultados reais.

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Ilustração que explica a formação do Índice de Transparência da Moda, com os itens avaliados.
Ilustração que explica a formação do Índice de Transparência da Moda, com os itens avaliados

A boa notícia, segundo a organização, é que 32 das marcas estão publicando listas de fornecedores diretos, que fazem as etapas de corte, costura e acabamento, e 14 das 100 marcas estão revelando as instalações onde as roupas são tingidas, impressas e lavadas em uma fase anterior ao corte. No entanto, nenhuma marca publica seus fornecedores de matéria-prima, portanto não há como saber quem produz e em que condições produz o algodão, a lã e outras fibras.

Na quarta, 26, uma das representantes da Fashion Revolution, Sarah Ditty, falou no Parlamento Europeu sobre o movimento e a campanha Quem Fez Minhas Roupas (Who Made My Clothes), antes de uma votação de regras importantes para o setor.

Em seu discurso, Sarah Ditty disse representar "centenas de milhares de pessoas, especialmente jovens, dos quais dezenas de milhares são residentes e cidadãos de países europeus, que participam no apelo da Revolução da Moda para uma indústria de vestuário mais segura, mais limpa, mais justa e mais transparente".

"Gostamos da moda e que não queremos que as nossas roupas sejam fruto da exploração, das más condições de trabalho, do comércio injusto e da destruição ambiental. Esse é um preço que não queremos pagar ou, pior, causar aos outros. E acreditamos que o papel do governo - no nível europeu - é crucial para garantir que as nossas roupas nunca sejam feitas desta forma."

No mesmo dia, o Parlamento aprovou a resolução que impõe regras para limitar a exploração dos trabalhadores ao longo das cadeias de fornecimento globais da moda. A esperança é que esse documento se desdobre em leis que garantam melhores condições para os trabalhadores de todo o ciclo.

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Projeto Gaveta Rio
Quando: 29 de abril, das 12h as 20h
Onde: Malha - r. General Bruce, 274, São Cristóvão - Rio de Janeiro
Programação: www.projetogaveta.com
Saiba mais sobre o movimento Fashion Revolution: http://fashionrevolution.org/


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