Folha de S. Paulo


Aliança Resíduo Zero quer coleta em três frações e faz campanha educativa

Cerca de 83% do seu lixo doméstico poderia ser desviado de um aterro sanitário e transformado em riqueza, reduzindo também emissões de gases do efeito estufa. Seria preciso separar em três partes –orgânicos, recicláveis secos e não recicláveis– e dar as destinações adequadas a essas frações.

Para os orgânicos, a compostagem (que gera adubo orgânico) ou a biodigestão e, para os recicláveis, a volta à cadeia produtiva como matéria-prima. Para os aterros, só deve ir mesmo o que não é reciclável no estágio de desenvolvimento tecnológico da região. Esse resto do resto é chamado de rejeito.

Do ponto de vista ambiental, deixar de enviar orgânicos para os aterros corta a geração de metano nesses locais. O metano é um dos gases do efeito estufa. Além desse efeito no aterro, a mudança de fluxo dos resíduos da casa para a disposição final pode reduzir emissões de carbono provocadas pelo transporte. E a reciclagem diminui o uso de matérias-primas virgens, o que economiza também energia, água e mais emissões que seriam produzidas pelos processos industriais para gerá-las.

Esses são temas dos vídeos didáticos de uma campanha de educação ambiental desenvolvida pela Aliança Resíduo Zero Brasil (ARZB). Estão à disposição no site da Aliança e são ótimos para sensibilizar adultos ou provocar discussões com as crianças nas escolas. Dão também dicas práticas de como fazer a sua parte mesmo se a sua cidade ainda não tem as coletas específicas.

A Aliança se define como "uma articulação de entidades, movimentos e indivíduos mobilizados pelo meio ambiente", nasceu em 2014 e se alinha ao movimento internacional contra o aterramento e a incineração de resíduos. O conceito de Resíduo Zero se inspira nos ciclos naturais eficientes e sustentáveis, sem desperdício.

A ARZB é formada por técnicos, representantes de comitês de meio ambiente, educadores, urbanistas, estudantes e ambientalistas. Com um evento por mês, em reunião aberta para todos os interessados, eles discutem boas práticas individuais e coletivas, analisam exemplos internacionais, debatem estratégias e planejam iniciativas para avançar nas políticas de gestão ambiental. A economia circular norteia o caminho.

Entre as ações do grupo estão desenvolver programas de capacitação de gestores públicos em polos municipais, programas de profissionalizacão para cooperativas de catadores, implementar sistemas de tratamento de resíduos orgânicos municipais, intermunicipais ou regionais e promover resíduo zero em intervenções urbanas de iniciativa pública ou privada. Além dessas, a Aliança pretende propor legislação exigindo práticas de resíduo zero em projetos e eventos de obras públicas e privadas, incluindo a definição de áreas para armazenar recicláveis e compostar no local.

Dimitri Auad, do Conselho Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, considera que a Aliança é um espaço para repensar as políticas públicas e que uma de suas missões é auxiliar os municípios a construírem seus planos de gestão. "O tratamento dos resíduos tem impactos nas políticas ambientais, de saneamento e na política de mudanças climáticas", afirma.

A Aliança se articula em dois temas fundamentais: a defesa da implantação plena da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e a criação de um plano para uma política de produção durável com reciclagem garantida.

Para a plena implantação da PNRS, defende como ponto de partida a coleta seletiva domiciliar em três frações de resíduos. Feita a coleta, considera de responsabilidade do poder público os gastos e o sistema de coleta dos orgânicos, com tratamento por biodigestão e compostagem. E enfatiza a responsabilidade dos fabricantes e comerciantes de produtos manufaturados, principalmente embalagens, no custeio integral do sistema de coleta de recicláveis e no seu aproveitamento.

"Contrariando a Política Nacional, não estão indo apenas rejeitos para os aterros. Estão jogando os orgânicos que deveriam ser aproveitados e os recicláveis", diz a socióloga Elisabeth Grimberg, uma das integrantes da Aliança, que também coordena a área de resíduos sólidos do Instituto Pólis e desenvolve estudos para vários institutos internacionais.

"Um ponto central dessa discussão é que não houve um decreto e nem um plano de metas para a implantação da PNRS. Temos de ter metas passíveis de punição e um sistema de fiscalização", afirma.

Elisabeth critica a atuação dos grandes geradores, empresas de alimentícios e bebida, principalmente, que produzem enormes quantidades de embalagens e querem amenizar só uma pequena parte do ônus. "No Brasil, essas empresas se prontificam apenas a capacitar catadores e fazer Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) e o poder público tem de pagar toda a conta da seletiva de recicláveis. Não está certo. A conta de todo o sistema deveria ser delas, com remuneração digna e um sistema de fundo para captar as participações de cada empresa", defende.

"Coleta, caminhão, cooperativa para classificar e organizar, e um trabalho de conscientização porta a porta", acrescenta. Ela defende que o poder público se encarregue do tratamento dos orgânicos: "Temos 3.915 municípios pequenos com menos de 20 mil habitantes. Dá para fazer um sistema como misto de compostagem e biodigestores. Existe tecnologia para isso. Há custo, mas com sistemas de consórcio os municípios podem se aliar para fazer".

Entre as ações da Aliança para a criação de uma Política de Produção de Bens Duráveis, estão promover campanhas para o consumo consciente e o design sustentável, através da gradativa recusa pelo consumidor de bens supérfluos e de estabelecer incentivos e fomento ao redesenho de produtos que não podem ser reutilizados de forma segura, reciclados e compostados.

Para começar a praticar o Resíduo Zero, você pode ver um dos vídeos já no ar: "O que é Resíduo Zero e a PNRS", "Política Municipal de Resíduos Sólidos e seus atores" e "Resíduos e as Mudanças Climáticas".

Os próximos encontros serão dia 1 de setembro, com o tema Resíduos Sólidos e Educação, e dia 6 de outubro, com o tema: Resíduo Zero e as Alternativas à Incineração. As inscrições podem ser feitas pelo site Aliança Resíduo Zero Brasil

As reuniões da Aliança são feitas na sede da Uma Paz, a Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz, do departamento de educação ambiental da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo (av. Quarto Centenário, 1.268, acesso pelo portão 7A do parque Ibirapuera).


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