Folha de S. Paulo


Com araucárias, Floresta de Bolso resgata paisagem histórica de SP

Florestas de Bolso/Reprodução
1° Floresta de Bolso em SP, feita em março, na Vila Olímpia, zona oeste de São Paulo
Primeira Floresta de Bolso em SP, feita em março, na Vila Olímpia, zona oeste de São Paulo

No próximo domingo, uma turma deve suar a camisa para plantar araucárias e espécies frutíferas da Mata Atlântica, como a palmeira Jussara e o Cambuci, no parque Cândido Portinari, no Alto de Pinheiros, zona Oeste.

As árvores são nativas e fazem parte da paisagem histórica da cidade, tendo sido erradicadas pela ocupação do solo para moradias e vias e, intensivamente, pelas obras de retificação do rio Pinheiros. Esse tipo de Mata Atlântica Mista, com araucárias, é comum também nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e em cidades paulistas como Campos do Jordão.

No século 16, o ex-rio Jurubatuba e o povoado em seu entorno foram batizados pelos jesuítas de Pinheiros por causa da grande ocorrência da araucária, também conhecida como Pinheiro do Brasil.

O plantio de domingo vai gerar a primeira Floresta de Bolso implantada em um parque e a maior já feita até hoje em São Paulo. O terreno a ser ocupado é de 600 metros quadrados e serão plantadas 600 árvores, de 90 espécies diferentes. Quem quiser participar, é só chegar. Os plantadores são voluntários, unidos por grupos nas redes sociais.

As Florestas de Bolso são organizadas pelo botânico Ricardo Cardim e, como o nome indica, procuram reintroduzir em espaços diminutos sistemas biológicos semelhantes aos das florestas. Os principais requisitos são o uso de espécies nativas, a quantidade de árvores adequada a cada local, a correta combinação das plantas, a localização e a densidade de ocupação do solo.

São observados princípios da sucessão florestal. São colocadas espécies de crescimento mais rápido, as pioneiras, que geram sombra, na vizinhança das que crescem mais lentamente, para provocar interações que favorecem o desenvolvimento de todas elas. Muitas das espécies nativas, se plantadas sozinhas, não sobrevivem.

O planejamento também procura ativar uma competição saudável entre as espécies, baseada na observação dos sistemas naturais, e manter um bolsão de umidade, para prescindir das regas.

"A Floresta de Bolso quer retomar um patrimônio natural que foi perdido. Além do desmatamento, no fim do século 19 os jardineiros passaram a ter referêncas apenas de plantas européias, o que causou um enormne impacto ambiental", diz Cardim. "Os frutos da Mata Atlântica traziam pássaros, como tucanos, por exemplo, que perderam a sua fonte de alimento."

As duas iniciativas anteriores do Floresta de Bolso foram em áreas bem menores, uma na avenida Helio Pelegrino, e a seguinte na praça Soichiro Honda, no Ibirapuera. "Nas duas primeiras já tivemos muito público. O próximo será o maior de todos os plantios de florestas gratuitas. Esperamos bastante gente, porque os parques têm aquele poder de aglutinar pessoas diferentes e de várias regiões da cidade", diz Cardim.

As mudas foram garimpadas em quatro fornecedores diferentes, para garantir a diversidade biológica, com preços que variaram de R$ 5 a R$ 25. Elas foram compradas por um "mecenas" do grupo e serão doadas à cidade.

O local escolhido é um antigo pátio de depósito de tubos de concreto das obras do Metrô e as regas serão feitas com água de reúso. Antes do plantio, marcado para começar as 10h, Cardim contará a história das Florestas de Bolso e da vegetação do bairro.

Mas a programação verde pode começar no sábado, 16h30, para quem gosta do tema. Cardim organiza um curso de paisagismo gratuito na Biblioteca do parque Villa Lobos. São 150 vagas. "Só chegar e sentar", diz.

Ele mesmo começa a programação, falando sobre paisagismo ecológico no Brasil. Na sequência, Nik Sabey mostra tendências internacionais do paisagismo ecológico. A última palestrante será Tais Mauad, do laboratório de poluição atmosférica da USP, que vai explicar como fazer para ter uma horta saudável na cidade.

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Curso Paisagismo Ecológico
Palestras de Ricardo Cardim, Thais Mauad e Nik Sabey
Sábado, dia 30 de julho, 16h30
Auditório da Biblioteca do Parque Villa Lobos - av. Prof. Fonseca Rodrigues, 2001, zona Oeste

Plantio de Floresta de Bolso
Domingo, dia 31 de julho, 10h
Parque Cândido Portinari - av. Queiroz Filho, 1365, zona Oeste


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