Folha de S. Paulo


Casa em Roterdã é vitrine e teste para tijolos de resíduos

www.stonecycling.com
Feito com restos de cerâmica, vidro e outros acabamentos, o tijolo holandês “Salame”
Feito com restos de cerâmica, vidro e outros acabamentos, o tijolo holandês “Salame”

Sal, wasabi, pimenta preta, cogumelos, caramelo, lentilha, trufas, berinjela e salame. Não é uma lista de compras para uma receita muito louca. São os nomes que compõem a variada paleta de cores dos WasteBasedBricks, linha de tijolos feitos a partir de rejeitos das indústrias de cerâmica, vidro e argila de olarias tradicionais. A primeira casa a usar esses tijolos feitos de resíduos está sendo erguida em Roterdã, Holanda, desde março, e deve estar pronta em julho.

As experiências com o uso de resíduos para obter novos materiais de construção sem adição de componentes virgens começaram a ser feitas por Tom van Soest quando ele ainda estudava na Academia de Design de Eindhoven, um dos centros mais interessantes de pesquisa em design no mundo. No final do curso, em 2012, ele foi um dos nomeados ao prêmio anual da escola pelo projeto.

Em 2013, se associou a Ward Massa para fundar a StoneCycling e seguiu pesquisando formas de trabalhar com itens já usados e descartados e tipos de misturas para obter novos materiais.

Agora os seus WasteBasedBricks enfrentam o primeiro grande teste, numa casa de quatro pisos e 120 metros quadrados projetada por Nina Aalbers e Ferry Veld, do estúdio architectuurMaken. O casal de arquitetos quis fazer a casa em alvenaria por considerar que os tijolos são elementos tradicionais da arquitetura holandesa.

Os designers da StoneCycling esperam que a casa funcione como vitrine para romper com o que consideram ceticismo em relação ao uso de materiais feitos com resíduos na construção civil.

www.stonecycling.com
Berinjela”, tijolo feito com rejeitos de indústrias de acabamento pela StoneCycling holandesa
Berinjela”, tijolo feito com rejeitos de indústrias de acabamento pela StoneCycling holandesa

Segundo eles, os WasteBasedBricks são ecologicamente corretos por vários motivos. O material para sua feitura é coletado num raio de 100 km da fábrica, no sul da Holanda, evitando grandes deslocamentos. Parte do processo é artesanal, consumindo pouca energia. A reciclagem evita que esses materiais usados sejam incinerados ou depositados em aterros e economiza matéria prima virgem.

Os entulhos da construção civil são responsáveis por cerca de um terça de todos os resíduos gerados na Europa, de acordo com dados usados pela Comissão de Economia Circular do Parlamento Europeu.

As receitas das misturas para obter as cores e texturas são secretas e eles garantem não usar cimento ou cinzas de incineração de resíduos, que podem ter metais pesados.
Saber exatamente a composição dos materiais garimpados é, aliás, é dos grandes desafios para a indústria da reciclagem.

Segundo reportagem do "The Guardian", empresas como a StoneCycling estão estudando a ideia de propor uma espécie de documento de identidade ou passaporte de construção, que seria um documento com a descrição de todos os materiais usados em um edifício. A medida facilitaria a sua reutilização após a demolição, incentivando a demolição mais cuidadosa e abrindo mais possibilidades para a indústria da reciclagem de entulho.


Endereço da página: