Folha de S. Paulo


Só Drummond salva

RIO DE JANEIRO - (Os vencimentos desta derrotada coluna cabem aos herdeiros do poeta, se estes desejarem; pelo ato de retalhar os poemas em busca de socorro emergencial, vai um pedido de desculpas.)

"Precisamos adorar o Brasil!/ Se bem que seja difícil caber tanto oceano e tanta solidão/ no pobre coração já cheio de compromissos.../ se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,/ por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão de seus sofrimentos." ("Hino Nacional")

"Os homens não melhoraram/ e matam-se como percevejos./ Os percevejos heroicos renascem./ Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado./ E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio." ("O Sobrevivente")

"Eu estava sonhando.../ E há em todas as consciências um cartaz amarelo:/ 'Neste país é proibido sonhar'." ("Sentimental")

"Tenhamos o maior pavor./ Os mais velhos compreendem./ O medo cristalizou-os./ Estátuas sábias, adeus.// Adeus: vamos para a frente,/ recuando de olhos acesos./ Nossos filhos tão felizes.../ Fiéis herdeiros do medo,// eles povoam a cidade./ Depois da cidade, o mundo./ Depois do mundo, as estrelas,/ dançando o baile do medo." ("O Medo")

"Deus vela o sono e o sonho dos brasileiros./ Mas eles acordam e brigam de novo." ("Outubro 1930")

"Os camaradas não disseram/ que havia uma guerra/ e era necessário/ trazer fogo e alimento./ Sinto-me disperso, anterior a fronteiras,/ humildemente vos peço/ que me perdoeis." ("Sentimento do Mundo")

"Tristeza de guardar um segredo/ que todos sabem/ e não contar a ninguém/ (que esta vida não presta)." ("Epigrama para Emílio Moura")

"É preciso viver com os homens,/ é preciso não assassiná-los,/ é preciso ter mãos pálidas/ e anunciar O FIM DO MUNDO." ("Poema da Necessidade")


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