Folha de S. Paulo


Qual carne cortar e mostrar

RIO DE JANEIRO - Segundo noticiou esta Folha na terça-feira, foi encerrado um convênio de seis anos entre o CPA (Centro Pró-Autista) e o governo do Estado de São Paulo. Deixarão de ser atendidas 110 crianças de baixa renda. Elas custam R$ 800 mensais cada ao contribuinte.

Não é possível avaliar, à distância, a qualidade do trabalho do CPA. Mas é possível se espantar com as escolhas que os governantes brasileiros fazem na hora de gastar.

A terceirização do atendimento já é reveladora. O Estado não considera sua obrigação cuidar de pessoas com autismo. Repassa dinheiro para associações. O CPA diz que R$ 800 por criança é pouco. E decidiu romper o convênio.

Em todo o país, mordomias dos Três Poderes não são cortadas. É dito que o Brasil vai parar se as empreiteiras deixarem de receber. Ninguém quer taxar grandes fortunas e lucros, mas sobem as tarifas dos transportes, atacam-se os salários, reduz-se o investimento em educação e saúde. Explicitamente ou por baixo dos panos, a coisa pública é privatizada. Direitos viram favores. E a culpa da crise é dos autistas.

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Na semana passada, médica sequestrada num shopping da zona sul do Rio ficou quatro horas em poder dos bandidos enquanto eram sacados R$ 38 mil de suas contas. Nesta semana, um advogado revelou que lhe aconteceu caso semelhante no Carnaval: sequestro na Barra da Tijuca, quatro horas com homens armados e R$ 19 mil perdidos.

Nas duas reportagens, o jornal "O Globo" publicou fotos das vítimas na sombra, para que não fossem reconhecidas. Já o vendedor de mate Chauan Jambre Cezário, 19, negro, baleado por policiais militares na favela da Palmeirinha (zona norte), apareceu no jornal com o rosto bem iluminado.

Preto no branco é isso aí.


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