Folha de S. Paulo


O samba tem nome

RIO DE JANEIRO - Hoje à noite, quando a Portela estiver na pista do Sambódromo carioca, será possível ver Marçalzinho, um dos maiores percussionistas brasileiros, colaborando com o mestre Nilo Sérgio na condução da bateria. Indiretamente, será a chance de matar a saudade de um grande nome da história das baterias de escola de samba: Mestre Marçal (1930-1994). A Portela foi sua casa por duas décadas.

Era um inovador. Nos anos 1960, decidiu tocar tímpano, um instrumento de orquestra, no Império Serrano. Consta que Natal, o poderoso bicheiro negro da Portela, disse o seguinte ao ver a cena num dos desfiles: "Esse macaco ainda vai me fazer perder um Carnaval!". E levou Marçal para sua escola.

Nilton Delfino Marçal era filho de Armando Vieira Marçal (1902-1947), também grande ritmista, fundador da Recreio de Ramos (embrião da Imperatriz Leopoldinense) e parceiro de Bide em sambas marcantes como "Agora É Cinza" e "A Primeira Vez".

Marçalzinho, 58, chama-se Armando de Souza Marçal por causa do avô. Os três formam uma fina dinastia e são a prova de que samba tem nome e tem sangue.

Mestre Marçal também alcançou reconhecimento como cantor e acompanhante de outros cantores. Tocou na banda de Chico Buarque, com quem dividia o microfone em "Sem Compromisso" e "Deixa a Menina" (está em CD e tem vídeo no YouTube).

E era um ótimo frasista, como prova a letra de "Mestre Marçal" (Mestre Trambique/Wilson Das Neves/Paulo César Pinheiro), regravada agora pelo Grupo Semente e cheia de máximas suas: "Se alguém me bancar, eu sei me vestir. Só me falta roupa"; "Moro em cima do sapato"; "Se a morte é um descanso, prefiro viver cansado".

Existem imagens em movimento de Marçal comandando com energia e muito suor a bateria da Portela. Não parecia alguém interessado em descansar.


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