Folha de S. Paulo


O valor do ódio

RIO DE JANEIRO - Quando nos espantamos com as "baixarias" da campanha presidencial e –sempre desejosos do pai censor– clamamos pelo rigor do TSE, fixamos os olhos na superfície e não vemos o que corre em região mais profunda: a escalada da intolerância. E esta não se resolve com cortes de minutinhos da propaganda eleitoral.

O século 20 foi um tempo de grandes guerras e da consolidação do capitalismo. Não se trata de mera coincidência. Os conflitos em larga escala propiciaram conquistas tecnológicas que se espalharam pelas relações entre capital e trabalho –pelo nosso cotidiano.

A economia do ódio tem ganhado novas feições no século 21, este de que se esperava, graças à internet, maior aproximação entre os homens. Escondidos em codinomes, pessoas ou grupos jogam no ventilador planetário mensagens racistas, xenófobas, homofóbicas, rejeições a todas as diferenças. No Facebook, seitas gritam contra facções rivais. Todos falam, poucos ouvem.

Para aumentar sua rentabilidade, um site depende do crescimento de três fatores: número de visitantes, número de páginas acessadas e, indiretamente, tempo de permanência dos usuários. Além de pornografia e da vida rastaquera das celebridades, o que mais atrai a massa virtual é a possibilidade de bater boca sem se levantar da cadeira. Fascismo de gabinete. O ódio é moeda forte do "novo capitalismo" –que nada tem de novo. É o capitalismo das cavernas com tacapes hi-tech.

Blogueiros criam expressões raivosas que viram tags conhecidas, potencializando sua audiência. São popstars da cultura do ódio.

Os marqueteiros políticos ainda pagam ociosos para que disseminem o terror nas redes sociais e nos portais de comunicação. Os candidatos são garotos-propaganda desse esgoto, mas o mau cheiro vem de todos nós.


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