RIO DE JANEIRO - Se a cada morte de um jovem negro pela polícia, no Brasil, segmentos da população saíssem às ruas tomados de revolta similar à ocorrida em Ferguson, nos EUA, viveríamos em convulsão diária.
Neste ano, foi divulgado um estudo da Universidade de São Carlos, coordenado por Jacqueline Sinhoretto. Mostra que, entre 2009 e 2011, 61% das pessoas mortas pela polícia de São Paulo eram pretas e pardas, e 77% tinham entre 15 e 29 anos. Em 79% dos casos, os responsáveis pelas mortes foram policiais brancos.
O repórter Alvaro Magalhães, do "Diário de S. Paulo", fez um levantamento com os registros da capital paulista em 2012. Deu 66% de pretos e pardos entre os mortos.
Não se deve esperar que a situação tenha melhorado desde então. Basta ver que, no Estado de São Paulo, a Polícia Militar matou 434 pessoas no primeiro semestre deste ano contra 269 do mesmo período do ano passado, aumento de 62%.
No Rio, os autos de resistência –eufemismo para esconder execuções, na maior parte dos casos– pularam de 200 no primeiro semestre de 2013 para 285 de janeiro a junho de 2014, um salto de 42,5% após cinco anos de queda das taxas. Ao longo de todo o ano de 2012, a polícia de Nova York matou 16 pessoas.
Divulgado em maio passado, o Mapa da Violência, coordenado por Julio Jacobo Waiselfisz para o governo federal, aponta que, em 2010, último ano do levantamento, 75,1% das vítimas de homicídios no país foram pretas e pardas. Em 2002, a taxa era de 62,2%.
Tentando se proteger em condomínios fechados e usando codinomes para vociferar na internet, os mais abastados acham que polícia é milícia: não precisa seguir as leis, pois sua função é matar preto pobre.
No dia em que Rio de Janeiro ou São Paulo virar uma grande Ferguson, não haverá policial suficiente para fechar a panela.