Na chamada comunicação corporativa, ou seja, naquela que ocorre entre empresas, instituições, governos e seus diversos públicos, existe um preceito que é tão sólido quanto definitivo: nunca tente desmentir a realidade.
Você, empresário, líder, governante ou quem quer que seja que precise dizer algo ao grande público, você pode até trabalhar para que as pessoas enxerguem as coisas do seu ponto de vista, concordando contigo. Agora, ao tentar dizer que um fato não está ocorrendo simplesmente porque ele é ruim, incômodo, indesejável, certamente você acabará, cedo ou tarde, desmentido pela própria realidade.
Se ficarmos apenas no campo da comunicação, é exatamente isto o que está acontecendo na atual crise de abastecimento de água na cidade de São Paulo e adjacências: a realidade de relatos cada vez mais frequentes e dramáticos de falta de água generalizada, agora ilustrada por filas de pessoas com baldes, tinas e até mesmo furando poços, a desmentir o governo do Estado em sua insana, inexplicável determinação de negar um fato inegável: falta água. Ponto.
Ok, vamos supor que não se tenha sido ineficiente ao não prever e se preparar para o desabastecimento, não se tenha sido irresponsável ao permitir que houvesse vazão (venda) de água numa medida superior à reposição natural, não se tenha realizado as necessárias e conhecidas obras para a otimização do sistema de abastecimento da população; mesmo que tenha feito tudo certinho e não tenha culpa de nada, inocente, governo e Sabesp deverão ser severamente culpabilizados por deixar as pessoas desinformadas.
Faltou discernimento, determinação política e estratégia para reduzir os danos agora irreparáveis, mesmo que, como diz a velha canção, chova três dias sem parar.
Ah, teve aquela história do bônus para quem gastasse menos. Mas aquilo não só não deu em nada, como agora sabe-se que a "conta" será paga com o aumento das tarifas.
Agora, é imprevisível e assustador o cenário.
Como em geral se apresenta a realidade quando se tenta escamoteá-la.