Folha de S. Paulo


O que vale é bola na rede

Ué, não estavam dizendo que não ia ter Copa?

Então por qual razão, num dos dias mais caóticos de São Paulo, com greve de metrô, com congestionamento recorde, com a turma de sempre fechando a avenida Paulista, com chuva fina e frio cortante, por que, repito, nada menos que 67 mil pessoas foram ao Morumbi ver o treino da seleção contra a Sérvia?

Ah, para falar mal, claro, que isso é especialidade de brasileiro...

O jogo foi ruim? Foi. Neymar jogou mal? Jogou. Teve vaia no fim do primeiro tempo? Teve. O gol do Fred foi na sorte? Foi.

Mas então porque a maior parte daqueles milhares de abnegados encharcados aplaudiu os jogadores no final?

Ah, porque brasileiro gosta de sofrer, dizem os sociólogos do Facebook, a raça mais chata da face da terra, que esbraveja e esperneia na internet como se estivesse no sofá de casa, sem ninguém pra ouvir suas turrices.

Não é nada disso, mas é um pouco disso também, olha só como somos contraditórios...

Mas como bem lembrou a brilhante jornalista Flávia Oliveira em seu blog dia desses, tudo já foi dito pelo grande Nelson Rodrigues, veja só: "Não sabemos admirar, não gostamos de admirar. Ou por outra: só admiramos num terreno baldio e na presença apenas de uma cabra vadia. Ai de nós, ai de nós! Somos o povo que berra o insulto e sussurra o elogio."

E assim caminha a humanidade, ou ao menos a torcida deste Brasil varonil, aos trancos e barrancos, reclamando e sofrendo até o apito final, que deve ocorrer dia 13 de julho no Maracanã.

Como tenho repetido aqui, vai ter Copa, sim, vai ter time, vai ter jogo, vai ter aflição, vai ter hino, emoção, podemos ganhar ou perder, mas torcer contra jamais!


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